Não muito longe de Machu Picchu, no Peru, existe uma outra montanha que tem vindo ganhar protagonismo, ao ponto da sua fotografia estar entre as mais partilhadas nas redes sociais…

 A imagem daquele pico verde que se eleva sobre as ruínas de uma velha cidade Inca é difícil de esquecer. Uma das Sete Maravilhas do Mundo, Machu Picchu é também o maior e mais célebre cartão-postal do Peru e está provavelmente no Top 5 dos locais a visitar no continente americano, mas recentemente uma nova atracção andina tem vindo a roubar-lhe protagonismo.

Ao caminhar pelas ruas empedradas de Cusco – cidade Património da Humanidade que serve de base a quem visita a região e onde os visitantes costumam fazer a obrigatória aclimatação à altitude –, é fácil deparar-se com as fotografias de uma montanha “pintada” com as cores do arco-íris, em todos os anúncios das agências turísticas locais. A chamada Rainbow Mountain é um destino-sensação na região desde que a National Geographic a colocou na lista um dos 100 lugares para visitar antes de morrer. Também conhecida como Montaña de Siete Colores, K’ayrawire Wininkunka ou Vinicunca, nome que em língua qechua significa “pescoço colorido”, é um dos vários picos que compõem a cordilheira Vilcanota. Mas era totalmente desconhecida até há meia dúzia de anos… porque, segundo os locais, a montanha estava coberta por neve de um glaciar que, entretanto, derreteu. Só que em vez de isso chamar a atenção para o problema do aquecimento global, o que surgiu por debaixo da camada de gelo transformou-a rapidamente numa das imagens mais partilhadas no Instagram por todos os que visitam o Peru.

A verdade é que as encostas da Vinicunca estão cobertas por uma inusitada camada de areias coloridas, que resultam de uma reacção química dos vários minerais depositados nas camadas de rochas sedimentares quando expostos a elementos como a água, o vento e o próprio oxigénio (o que não acontecia quando estavam protegidos pelo glaciar). Cada uma das tonalidades desde arco-íris feito de terra deve-se a um mineral diferente. As camadas vermelhas indicam presença de óxido de ferro, enquanto as tonalidades laranja e amarela sugerem sulfeto de ferro. O rosa resulta da mistura de argila vermelha, com lama e areia; o verde são argilas ricas em minerais ferromagnesianos e óxido de cobre; o castanho é limonita oxidada; e a cor turquesa vem do clorito, que interage com o amarelo para formar um azul brilhante.

 

Em busca do pote de ouro no fim do arco-íris

Como referido, actualmente, Vinicunca, que se situa a cerca de 145 km de Cusco, é a segunda atracção mais visitada da região, pelo que não é nada complicado reservar um tour até à Montanha num dos muitos operadores turísticos locais. Os transferes diários partem quase sempre de madrugada, numa longa viagem por estradas sinuosas até Pitumarca e à comunidade camponesa de Pampachiri. No preço da excursão está normalmente incluído o pequeno-almoço (e o almoço no regresso), em casa de uma família local. A partir deste ponto, o trilho de aproximadamente oito quilómetros tem de ser feito a pé. Uma caminhada que seria relativamente fácil, não fosse o facto de ter início já a 4200 metros de altitude, o que significa que é essencial já ter feito o período de dois dias de aclimatação à altitude antes de se aventurar nesta subida até aos 5200 metros. Desafiante, devido ao ar rarefeito que obriga os visitantes a paragens frequentes, o percurso demora cerca de duas ou três horas para ir e mais duas ou três horas para regressar, dependendo da forma física de cada pessoa.  

Além de botas para caminhada, como o clima na montanha pode mudar em segundos, também é aconselhável levar várias camadas de roupa – para fazer face às oscilações de temperatura e ao vento. Casacos de chuva são obrigatórios, assim como óculos de sol, protector solar, alguns snacks e muita água. De resto, as autoridades locais recomendam que o trekking em Vinicunca seja feito entre Março e Novembro, com maior garantia de encontrar um céu azul nos meses de Junho, Julho e Agosto. Além disso, é preciso advertir que devido à imprevisibilidade do clima, as vistas das encostas coloridas podem ser muito prejudicadas pelo mau tempo e a neblina, ao ponto de a montanha poder desaparecer no horizonte. Portanto, é aconselhável que os visitantes reduzam as expectativas das imagens perfeitas partilhadas no Instagram, onde as cores ganham um brilho especial graças aos efeitos de filtros e do Photoshop.

De qualquer modo, quem se aventura a subir ao cume, rapidamente percebe que a Rainbow Mountain é apenas parte da atracção, já que todo o vale é abençoado por uma beleza extrema, com picos e cordilheiras cobertas de neve e vistas fantásticas sobre o majestoso Ausangate, que atinge 6384 metros de altitude. Outra paisagem não menos colorida é oferecida pela população local que recebe os visitantes nos seus trajes tradicionais, vendendo lembranças e a possibilidade de tirar fotografias junto dos rebanhos de lamas e alpacas, sempre muito fotogénicos.

Actualmente, mesmo durante a época baixa do turismo, o cume de Vinicunca atrai multidões que seriam inesperadas nesta zona remota, um reflexo do que se passa na vizinha Machu Picchu. Pouco tempo antes da pandemia, a cidadela inca debatia-se (e debate-se ainda) com números excessivamente elevados de visitantes – quase 1000 turistas por hora –, sucedendo-se os incidentes e danos vários no património. Pressionadas pela UNESCO, as autoridades peruanas estabeleceram um limite de 3400 entradas diárias, com as visitas a serem obrigatoriamente acompanhadas por um guia e limitadas a grupos de 10 pessoas. Celebridade recente, a Rainbow Mountain ainda não tem qualquer limitação de visitantes, mas quem sabe se este pote de ouro no fim do arco-íris não pode vir a desaparecer?

A área do Lifestyle tem muito poucos segredos para Bruno Lobo, jornalista com mais de 15 anos de experiência. Da moda aos automóveis, da relojoaria à tecnologia, da gastronomia à beleza. Porque “a vida é bem mais agradável com estes pequenos grandes prazeres”. GQ e Fora de Série são duas revistas onde o seu cunho se sentiu mais forte, mas já colaborou com várias revistas nacionais e internacionais, incluindo a Turbilhão, “com enorme prazer por poder contribuir para este projecto editorial”.