
Passearam-se pela Europa, quais estrelas de rock. Atraíram multidões de plebeus, fizeram reis e imperadores abrir os cordões à bolsa. Era o Século das Luzes e o espírito racionalista influenciava a busca de imitações mecânicas dos seres vivos. Jaquet Droz, pai e filho, relojoeiros, maravilharam o mundo com os seus andróides.
Um escreve, outro desenha, uma outra toca piano. O primeiro representa uma criança com cerca de três anos, sentado numa escrivaninha estilo Luís XV. Segura na mão direita uma pena de pato, que se move na horizontal e na vertical, enquanto a esquerda pressiona a pequena mesa de mogno. Os olhos seguem as letras que vão sendo escritas na folha de papel.
A sua atitude é de grande concentração. Entre linhas, o braço move-se e a pena mergulha no tinteiro, que vai saindo ou entrando da mesa, conforme a necessidade. Na aparência, o desenhador parece irmão gémeo do escritor, mas o seu trabalho é mais espectacular. Do seu lápis com mina de carvão vão saindo silhuetas de pessoas, de animais. Olhando a obra quase acabada, o petiz sopra, afastando os restos indesejados.
Ela, a pianista, atira-se ao cravo com determinação. O som que se ouve é exactamente o das notas premidas pelos dedos ágeis, delicados, de mãos parcialmente cobertas por rendas. O peito da artista sobe e desce, numa respiração tensa, própria de um recital. No final, os aplausos e a vénia subtil.
São três andróides – autómatos com figuras humanas. Foram feitos na década de 70 do século XVIII e serviam na altura para maravilhar os ricos e poderosos, reis e imperadores. Para que eles comprassem relógios. Ao fim e ao cabo, eram anúncios “vivos”, a três dimensões.
Estas três figuras raras, o estado da arte da automação puramente mecânica, mesmo nos dias de hoje, são fruto do génio de Pierre Jaquet Droz, do seu filho Henri-Louis e do filho adoptivo, Jean-Frédéric Léchot, um trio suíço activo no berço relojoeiro de La Chaux-de-Fonds.
Os três andróides, bem como dezenas de outros autómatos, vindos de colecções particulares e de museus, estiveram patentes ao público numa rara exposição na Suíça – Automates & Merveilles. As três figuras fazem parte do espólio do Museu de Arte e de História de Neuchâtel, que quis contextualizar melhor essas peças, inserindo-as na época de fabrico e nos conhecimentos científicos e mecânicos da altura.
Assim, a ele juntaram-se o Museu Internacional de Relojoaria de La Chaux-de-Fonds e o Museu de Relojoaria de Locle – Château des Monts.
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