
Moda, arquitectura, negócios, cultura e lazer convivem lado a lado, num espaço aberto ao mundo e à vida. Estamos na Avenida da Liberdade, antigo Passeio Público, e desde há muito sinónimo de desenvolvimento e de elegância. Desça-a connosco e descubra a história desta artéria única, que acolherá, em breve, o novo espaço da Boutique de Relógios Plus.
“Àquela hora D. Felicidade e Luísa chegavam ao Passeio.”
in O Primo Basílio (1878), de Eça de Queiroz
Uma alameda murada, de 300 por 90 metros, com uma rua central, ladeada, em ambas as faixas, por cinco filas de árvores, plantadas de forma simétrica. Assim era o desenho base do Passeio Público, espaço que representou, em 1764, a primeira expressão do conceito moderno de parque ou jardim público em Lisboa.
O projecto, da responsabilidade de Reinaldo Manuel dos Santos, integrava o plano da cidade, depois do grande terramoto de 1755. Influenciados por ideais filosóficos e movimentos culturais e artísticos que percorriam a Europa da época, os arquitectos ao serviço do Marquês de Pombal desenharam uma nova capital como representação de uma mentalidade também ela diferente, mais racional e luminosa. É neste contexto que se reconhece a necessidade de um novo espaço de lazer, um lugar onde a população pudesse conviver e divertir-se, usufruindo da natureza no contexto da cidade.
Foi assim que, onde antes existiam hortas, nasceu um espaço arborizado, cercado por muros altos, destinado a ser o centro de socialização dos lisboetas. O objectivo, porém só viria a ser conseguido em meados do século XIX, quando os ventos liberais derrubaram a altura das cercas de pedra e renovaram o espaço, acrescentando-lhe uma ampla oferta de divertimentos.
Por entre chorões e avencas, lagos e cascatas, estátuas de tritões e sereias e alegorias aos rios Tejo e Douro, que povoaram o lugar por intervenção do arquitecto Malaquias Ferreira Leal, organizavam-se bailes infantis, festas de caridade, concertos filarmónicos e sinfónicos e espectáculos de fogo-de-artifício. Lisboa acorria em peso, fazendo-se representar pelo povo, pela burguesia, por intelectuais e nobres.
Os escritores Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz estavam entre os habitués do local, mas as renovadas e frondosas alamedas recebiam também a visita frequente da família real.
Em 1879, o percurso deste símbolo de lazer da Lisboa romântica chega ao fim, iniciando-se as demolições do espaço, para dar lugar a uma nova referência da cidade.