
A abertura de uma nova Boutique dos Relógios Plus – a segunda na Avenida da Liberdade – é a última grande novidade da principal artéria de Lisboa. Que ainda tem muito para oferecer. E surpreender.
É a mais nobre via de Lisboa mas dispensa os formalismos. Afinal, se a tratarmos simplesmente por “Avenida”, não há quem não saiba a qual nos referimos. Testemunho maior da sua fama e importância, que nasceu antes mesmo de a Avenida ser avenida. Não foi por um mero acaso que acolheu as mais importantes marcas de luxo em Lisboa.
Mais do que no passado (ver caixa) a Avenida da Liberdade revela-se hoje de uma vitalidade impressionante. A avenida mexe-se, e como! Só nos últimos tempos abriram as lojas de Luis Onofre, Aristocrazy, Hackett, Cos, Lacoste, Miu Miu, Zadig & Voltaire, Michael Kors, Rimowa, Gucci, Guess, Fly London, Cartier, Juliana Herc, Marina Rinaldi, Tumi….
Pausa, que a lista continua: a Ermenegildo Zegna trocou de lugar para uma loja maior, um pouco acima. A Hugo Boss fez o mesmo mas, neste caso, aumentando a oferta porque a antiga loja de homem passou a ser uma Hugo Boss de senhora. A Porsche Design também trocou de localização e a Burberry, não saindo de mesmo sítio, renovou e alargou o espaço.
Todas estas novidades vieram juntar-se aos muitos nomes de excepção que já aqui se encontravam, como Louis Vuitton, Prada, Longchamp, Fashion Clinic, Tod’s, Furla, Armani, Stivali, Carolina Herrera, Loewe e Rosa & Teixeira. Alargando em muito a oferta e gerando um capital de massa crítica fundamental para transformar a Avenida da Liberdade num nome incontornável do luxo mundial. Para os consumidores, claro, com os turistas à cabeça – afinal todo este crescimento avançou de mãos dadas com o maior afluxo de turistas à capital -, mas também para as próprias marcas.
Segundo dados recolhidos junto das principais consultoras imobiliárias a operar na Avenida, a procura não mostra qualquer sinal de abrandamento. Bem pelo contrário, consta que estão neste momento mais de 20 marcas efectivamente à procura de um espaço. Uma das próximas novidades será uma megastore da espanhola Mango que irá ocupar todo o edifício do Teatro Éden, nos Restauradores. E poderá muito em breve ter por vizinha de frente as Galerias Lafayette, de Paris. Junto destas consultoras, mas também de alguns comerciantes informados da zona, pudemos apurar que entre os nomes mais falados estão realmente algumas das multinacionais do luxo mais conceituadas, como Versace, Ralph Lauren, Bulgari, Chanel e Dior. A própria Fashion Clinic, que conta três espaços distintos – uma loja de mulher, uma de homem e a loja Gucci que explora -, considera que ainda tem muito para crescer e melhorar na Avenida. A abertura de uma segunda Boutique dos Relógios Plus enquadra-se pois neste quadro global.
Mas nem só de lojas se faz uma avenida e a última tendência – recebida com enorme satisfação por todos que aqui estabeleceram o seu negócio – é o aumento da oferta hoteleira. Novos hotéis trazem mais turistas, certo, mas trazem também novos espaços de restauração de qualidade. A oferta neste momento é impar. O charmoso boutique-hotel Valverde ou o luxuoso Porto Bay são apenas os últimos nomes a juntar-se a uma lista que inclui o Heritage Av. Liberdade, o Fonte Cruz, o NH, o Sofitel, o Bessa ou o Turim. Sem esquecer o Tivoli no centro da Avenida e ainda, nos Restauradores, o Avenida Palace e o Altis Avenida.
Juntos são um factor determinante para transformarem a vida na avenida, que se assume assim como o centro de lazer que sempre esteve no seu ADN.
As muitas vidas da avenida
Lisboa procurava ainda sarar as feridas do Terramoto de 1755 quando o Marquês de Pombal decidiu que à capital do reino faltava um pulmão. Ideia avançadíssima para a época. Mandou então erigir, entre o espaço que hoje conhecemos como os Restauradores e a Praça da Alegria (de um lado) e a Rua das Pretas (do outro), um frondoso “Passeio Público”.
Apesar do nome, de público o passeio tinha muito pouco: era ladeado por altos muros conventuais, entradas gradeadas e acesso vedado à plebe. Quem por ali passeava teria de pertencer à nobreza. Por volta dos anos 30 do século XIX ocorreu a primeira grande mudança no Passeio Público: os muros vieram abaixo e o jardim cresceu mais 30 metros para cima e 20 metros de largo. Em lugar dos muros conventuais ergueu-se uma cerca de ferro que delimitava o espaço e barrava a entrada “a homens sem gravata ou de jaqueta e a mulheres de capote.”
Datam dessa altura as estátuas alegóricas aos rios Tejo e Douro, que hoje ainda encontramos na Avenida. Havia lagos também e o Passeio Público tornou-se numa referência dos intelectuais da capital que por ali gostavam de caminhar. Nomes ilustres como os de Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Ramalho Ortigão ou Eça de Queiroz, cuja obra tem várias referências ao Passeio Público.
Passaram os anos e tornou-se evidente que a cidade tinha de crescer e tinha de o fazer para norte. Iniciou-se pois uma acesa discussão sobre acabar com o Passeio e transformá-lo em avenida. Na realidade a discussão vinha dos tempos do próprio Marquês, que tinha já previsto o crescimento do “seu” jardim até ao cimo da colina – a mesma de onde agora observa a cidade que construiu.
Mas esta foi acesa e durou bem mais de dez anos até que, finalmente, José Gregório da Rosa Araújo, presidente da edilidade, terminou com a estéril querela fazendo com que o governo aprovasse finalmente os planos de expropriação dos terrenos circundantes e entregando os planos de expansão a Frederico Ressano Garcia, engenheiro da câmara.
O projecto estendia a avenida até um grande parque e permitia que a cidade crescesse, depois, até ao Campo Grande. Foi então que a Avenida, e o parque que a encimava, ganharam o nome: Liberdade. Entendida com a Liberdade dos “Restauradores”, a independência nacional face ao jugo espanhol. Mais tarde, em 1903, o parque viria a mudar de nome aquando da visita do Rei Eduardo VII de Inglaterra, para reafirmar a aliança entre os dois países.
Quanto à Avenida, essa, era inaugurada a 28 de Abril de 1886, com a presença de toda a família real. Inspirada nos boulevards franceses e muito concretamente nos Campos Elísios, consegue ser ainda mais larga do que estes (90 metros contra 70). A justificação para a sua largura advém de dificuldades inerentes à lei das expropriações que levaram a avenida a crescer ao longo de toda a largura do velho Passeio Público. Como era um bonito boulevard, ajardinado e espaçoso, subir e descer a avenida tornou-se no passeio de eleição da alta sociedade lisboeta. Ontem, como hoje.