
O Carvalhas Memories é um Porto especial, com 150 anos. Um vinho feito para celebrar, que merece, ele próprio, ser celebrado. Embarquemos, portanto, numa viagem pela sua história.
Idealmente, esta viagem devia começar num antigo comboio a vapor, fumo a sair pela chaminé e o maquinista, de cara coberta de fuligem, a atirar mais carvão para a caldeira. Na plataforma, o chefe da estação convidaria os passageiros a entrar: “Todos a bordo!”. Depois, tocava o apito e o comboio partiria numa viagem rumo ao passado.
Idealmente seria assim, mas se fosse não chegaríamos ao nosso destino. Pretendemos regressar a 1867, ano em que as uvas que deram origem ao Carvalhas Memories cresciam nas encostas solarengas da Quinta das Carvalhas, com vista para o Pinhão. Só que nessa altura o comboio ainda não chegava à vila, mal tinha chegado ao Porto, e só este facto atesta a idade incrível deste néctar mágico.
Parece inacreditável como pode um vinho, nascido há tanto tempo, chegar aos dias de hoje com tamanha frescura e vigor, tendo inclusivamente obtido a classificação de 99 pontos na Wine Spectator, a mais alta jamais atribuída a um vinho português. Um testemunho da longevidade a que podem chegar os grandes portos.
Há 150 anos, a única forma de transportar as pipas era fazendo a viagem pelo rio, a bordo de um barco rabelo, travessia perigosa que ceifou muitas vidas, como a do célebre Barão de Forrester, seis anos antes. Felizmente não foi esse o caso e o nosso rabelo chegou a salvo ao cais de Gaia. Dali, as pipas foram transportadas até às famosas caves, onde o néctar passou a repousar, ao longo de todos estes anos.
Não viu o mundo, mas o mundo passou por ele: a queda da monarquia, duas guerras mundiais, a bomba atómica, a guerra colonial. A rádio, o telefone, a televisão, os computadores e a internet. O automóvel e o avião. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, a libertação feminina, a libertação sexual… A tudo assistiu, indiferente, adormecido, mas sempre em evolução. Os taninos foram afinando, a fruta, tão forte a princípio, ganhando suavidade. Provavelmente, quando Neil Armstrong chegou à Lua, de Omega no pulso, já estava perfeito, mas nem isso o deteve. A madeira continuou a entrar no vinho, cada vez mais dourado, aveludado e complexo e assim poderia continuar, provavelmente até se descobrir uma fonte de energia universal, limpa, grátis e inesgotável, não fossem os 260 anos da Real Companhia Velha exigirem uma forma digna de serem celebrados. Este era o vinho mais antigo da casa, por isso, no ano passado, foram às caves acordá-lo.