Directora de Produto na Audemars Piguet, Chadi Nouri Gruber não é uma novata no universo do Luxo. Depois de cinco anos à frente do departamento de Alta Joalharia da Cartier, em 2015, Chadi juntou-se à manufactura de Le Brassus, onde promete deixar a sua marca, contando, para isso, com os seus pontos fortes, que a própria descreve como sendo: espírito de independência, determinação, precisão, integridade e paixão.
Como Directora de Produto, qual é a sua visão para a Audemars Piguet?
Permanecemos focados na nossa estratégia de longo prazo. Continuamos a forjar o nosso próprio caminho, com uma direcção muito clara, e temos uma distribuição focada e um inventário de stock saudável. Tivemos muito bons resultados em 2016, com mais de 800 milhões em vendas. Somos também uma empresa independente, pelo que conseguimos adaptar-nos a qualquer situação muito rapidamente e temos uma produção anual fixada em 40 mil relógios. E são mesmo 40 mil, nem mais um. Portanto, cada novo relógio significa que temos de remover um, o que adiciona complexidade na hora de adicionar novos produtos. Fazemo-lo para assegurar exclusividade, para nos assegurarmos de que somos sempre desejados. Focamo-nos permanentemente em melhorar a qualidade e a experiência do cliente.
Como escolhem o relógio a retirar para incluir a novidade?
Fazemos uma análise de vendas. Verificamos quais os produtos com melhor performance, qual a sua tendência no mercado, analisamos para onde devemos e queremos ir… Tentamos sempre criar uma tendência, em vez de seguirmos uma já existente.
O mundo da relojoaria não é novidade para si. Tendo em conta a sua experiência, quais são os seus pontos forte e áreas para melhorar?
Posso resumir os meus pontos fortes em cinco palavras: espírito de independência, determinação, precisão, integridade e paixão. A minha principal área a melhorar é tentar manter um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Sendo tão apaixonada como sou, é difícil manter uma vida privada muito saudável.

A AP tem um equilíbrio entre, por um lado, história e tradição e, por outro, design progressista e modernidade. É fácil combinar estes valores numa linha de produtos. Como conseguem fazê-lo?
Na verdade, acho que é bastante fácil, porque vendemos conhecimento, arte e sonhos e não apenas uma peça de metal que dá as horas. Não nos é apenas permitido quebrar as regras, somos encorajados a fazê-lo, pelo que tentamos sempre ligar os nossos designs progressistas ao nosso passado, à tradição, à complexidade mecânica. Queremos quebrar as regras, mas, ao mesmo tempo, queremos fazer sempre a ligação ao nosso passado e tradições. E acho que o fazemos muito bem.
Qual é a sua visão pessoal para o produto?
Em termos de visão de produto, o nosso objectivo é continuar a inspirar as pessoas com o nosso icónico Royal Oak, com actualizações consistentes e passando o legado fantástico do modelo. Também queremos que mais mulheres usem esta peça. Queremos continuar a surpreendê-las com inovações a elas dedicadas, como o Royal Oak Frosted Gold. Também queremos continuar a apoiar a nossa linha Millenary para mulher, que representa o encontro entre a alta relojoaria e a joalharia. Paralelamente, queremos continuar a surpreender os nossos clientes com criações incríveis como a Diamond Trilogy. Finalmente, pretendemos continuar a controlar o número dos nossos modelos para focarmos a nossa atenção em colecções-chave, o que significa que sempre que lançamos novos produtos, asseguramo-nos de que todas as nossas famílias são constituídas por best-sellers. Por isso, certificamo-nos sempre de descontinuar peças que já tiveram a sua vida, mas que chegaram ao fim. É muito importante manter um número estável de referências activas, não demasiadas, contribuindo para um stock saudável.
O mundo está a mudar a um ritmo muito acelerado e o mesmo é verdade em relação aos consumidores de relógios. Como é que uma marca como a AP lida com este ambiente de mudança?
O facto de sermos uma empresa detida por uma família gera um processo muito rápido, pelo que somos muito rápidos e seguimos o nosso instinto, embora por vezes pareça que estamos a ir contra a maré. Como fazer as pessoas sonhar é a verdadeira questão. Não encontramos a resposta através de painéis de pessoas, em vez disso, criamos os nossos próprios sonhos, colocamos os nossos clientes, porque somos os seus maiores defensores, no centro destes processos e, como disse antes, não seguimos tendências, criamos as nossas, e o nosso foco é perfeição lenta num mundo dominado pela velocidade.

Sendo uma mulher, e tendo a visão interna da indústria, como vê o investimento que muitas marcas têm feito nos últimos anos em relógios femininos?
As peças de tempo tornaram-se acessórios importantes para as mulheres, mas estas querem sempre ter opções. Por exemplo, uma tendência notória na indústria é combinar diversas braceletes e pulseiras com um relógio específico e, em alguns casos, algumas irão querer usar um relógio mais pequeno, para que possa combinar muito bem com as pulseiras, e outras irão querer um relógio maior para criar contraste. Ao mesmo tempo, o interesse das mulheres em relógios mecânicos também está em crescimento. As complicações estão a ser percebidas e almejadas e acho que é o nosso trabalho continuar a informar as nossas clientes sobre a complexidade e o incrível conhecimento que existe no desenvolvimento e na construção de um relógio mecânico complicado. Finalmente, na Audemars Piguet acreditamos que complexidade mecânica de alto nível e estética perfeita não são mutuamente exclusivos. Hoje, as nossas vendas dividem-se entre peças para homem e para mulher, 70% homem e 30% mulher, e vamos continuar nessa linha. E a nossa produção está cheia de produtos novos para mulher.
Por Marina Oliveira, em Le Brassus, Suíça