
Bolhas douradas e elegantes castelos que se erguem sobranceiros sobre vinhas manchadas pelo sol. Nada apela tanto ao requinte como a região francesa de Champanhe.
“Lembrem-se, cavalheiros, não é apenas pela França que lutamos, mas por Champanhe.” – Winston Churchill. Ao longo das décadas, inúmeras citações têm sido feitos acerca desta celebrada bebida alcoólica e o próprio nome fala por si. Com as suas associações reais e brilho mágico, o champanhe evoca imagens de estilo, prazer, elegância, romance e celebração. De acordo com a tradição, a engenhosa ideia de misturar diversas variedades de uva da região de Champanhe-Ardenne no nordeste francês e selar as garrafas com uma rolha de cortiça e um fio de arame para suster a pressão da fermentação surgiu de Dom Pérignon (1638 – 1715), mestre da adega da Abadia Beneditina de Hautvillers.
O champanhe é o mais ilustre exemplo de um “vinho espumante” e tradicionalmente é produzido utilizando uma mistura de três variedades de uva: Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier. Uma vez extraído o mosto, o champanhe enfrenta dois processos de fermentação, o primeiro nos barris e o segundo depois de o vinho ser engarrafado e de lhe ter sido adicionado açúcar e fermento. Isto permite que o dióxido de carbono fique preso no vinho, dando origem às famosas e distintivas bolhas. Os vinhos não espumantes são apenas fermentados uma vez, nos barris.

Os champanhes “novos” são envelhecidos pelo menos durante 18 meses e os vintage durante pelo menos três anos até um máximo de dez e são os mais caros. O nome ‘champanhe’ possui direitos de autor e apenas os vinhos produzidos na região francesa de Champanhe podem receber tal denominação. Se um vinho semelhante for produzido, usando a mesma metodologia, mas noutro local, deve ser rotulado como methode champenoise, de modo a dar crédito ao procedimento.
Uma excelente forma de aprender mais acerca do processo de produção do champanhe é explorar as estradas assinaladas que compõem a Route Touristique du Champagne (Rota Turística do Champanhe). Um total de 600 km divididos em vários circuitos que serpenteiam pelas principais vinhas da região, incluindo Montagne de Reims (entre os dois centros de champanhe Reims e Épernay), Côte des Blancs (a sul de Épernay) e, mais a sul, Côte des Bar, especialista em pequenos produtores de champanhe.
Terra do ouro líquido
Estamos na última semana de Setembro e na época de vindimas em Côte des Bar. Conduzir ao longo da Route Touristique du Champagne, através das vinhas, é puro prazer; as belas paisagens abundam, com cada uma melhor do que a anterior. Por entre aldeias pitorescas, vinhas cuidadosamente organizadas cobrem as encostas, enquanto coloridas figuras a colher as uvas pontuam os socalcos. Um aroma doce e inebriante enche o ar e veiculo sim, veiculo não, avistamos um tractor que puxa um atrelado carregado da preciosa fruta.
Na aldeia de Urville visitámos Champagne Drappier, uma família de produtores de vinhos espumantes, cujas vinhas são cultivadas há mais de dois séculos. Michel Drappier, o actual e apaixonado Director da Casa, controla o processo de produção do vinho, enquanto o seu pai Andre, com uma vida de vindimas, supervisiona os procedimentos. Drappier produz cerca de 1,5 milhões de garrafas por ano, distribuídas para cerca de 90 países, e, ao longo dos anos, os seus champanhes soberbos têm seduzido um número de personalidades prestigiadas, incluindo Charles de Gaulle e Luciano Pavarotti.
“A Casa de Drappier possui uma panóplia de tamanhos de garrafas no seu portefólio, incluindo a gigante Melchizedek, única no universo do champanhe”, diz Michel Drappier. Com um conteúdo recorde de 30 litros (equivalente a 40 garrafas standard), com um peso de 58 kg e um preço de cerca de 3800 euros, esta é de facto uma garrafa rara e apenas algumas são vendidas por ano.
Produzida de forma tradicional, cada garrafa de Melchizedek possui a sua própria fermentação e é virada, saturada e o sedimento removido à mão. “É o tamanho perfeito para a Passagem de Ano, aniversários ou casamentos, e o ano passado vendemos um par para o lançamento de um cruzeiro de luxo na Florida chamado Silver Seas. Muito mais acessível é a mais conhecida magnum, que equivale a duas garrafas standard, e é perfeita para um interlúdio romântico a dois, ou como dizemos em França, um tête-à-tête”, diz Michel com um sorriso conhecedor.
Outrora ocupada por monges cistercienses da Abadia de Clairvaux, o lugar da Casa Drappier inclui algumas magníficas caves do século XII. Aqui, envelhecendo suavemente em prateleiras, estão os cuvées speciales, bem como os “grandes” da empresa, com nomes como Balthazar (12 litros), Nabuchodonsor (15 litros), Salomon (18 litros), e Melchizedek, o avô de todos.
“Venham visitar-nos de novo um dia destes. Estamos aqui há 850 anos, por isso não nos mudaremos tão cedo”, diz Michel enquanto nos despedimos e retomamos o volante em direcção à histórica Troyes, conhecida pela sua colecção de casas medievais e renascentistas emolduradas por madeira, e finalmente à nossa casa por uma noite, Château d’Etoges, situada na pequena aldeia com o mesmo nome, rodeada por vinhas.
Acomodações dignas de um rei
Pernoitar ou visitar um dos 150 castelos, solares e mansões históricos da região é um belo complemento à visita à região francesa de Champagne-Ardenne e encaixa-se perfeitamente no estilo de vida do champanhe. Construído no início do século XVII, o Château d’Etoges foi outrora um local privilegiado onde os reis de França gostavam de ficar nas suas viagens para leste. Diz-se que Luís XIV apreciava muito a beleza dos jardins, fontes e lagos do castelo.
Localizado sobre um quintessencial fosso, este castelo magnificamente renovado possui 20 quartos mobilados com antiguidades e tapeçarias genuínas. No andar de baixo, uma imponente lareira testemunha banquetes, reuniões e celebrações de um passado medieval. Cozinha francesa elegante (com uma boa selecção de vinhos e, claro, champanhes) é servida na sala de jantar adjacente e, depois de desfrutarmos de um saboroso jantar, segue-se uma curta caminhada até aos sumptuosos quartos com as suas convidativas camas de dossel.
A uma curta viagem de carro para norte do Château d’Etoges está a cidade rural de Épernay e o melhor local para a prova de champanhe. Por baixo das ruas da “capital do vinho espumante”, em cerca de 100 km de caves subterrâneas, milhões de garrafas de champanhe empoeiradas maturam lado a lado, esperando o dia em que serão abertas em celebração.
Épernay é a casa de algumas das mais famosas casas de champanhe do mundo, como Moët & Chandon, De Castellane e Mercier, a marca mais popular em França. Muitas delas estão situadas na Avenue de Champagne, ou perto, e oferecem excursões de lazer e informativas seguidas por provas e por uma visita à loja da fábrica.
A alguns passos desta avenida, no número 8 da Rue Gambetta, no sofisticado bar e adega C. Comme Champagne, afundámo-nos num par de poltronas de pele vermelha para provar champanhe ao copo. “Representamos 50 pequenos produtores de vinho de 50 aldeias das principais regiões e todas as semanas oferecemos várias provas, como uma selecção de cinco champanhes diferentes de várias regiões em copos de 10 cl”, diz Aurelie Hermant, uma das simpáticas funcionárias do bar.
A parte boa sobre o C. Comme Champagne é que se gostar de determinado champanhe, basta descer até à adega por baixo do bar e comprar uma garrafa. Todas as casas estão claramente identificadas com informação sobre a região de origem e os tipos de champanhe que produzem.
De Épernay são apenas 6 km até Hautvillers, onde Dom Pérignon criou pela primeira vez champanhe há três séculos. Hautvillers traduz-se como “lugar alto” e é uma daquelas aldeias francesas dignas de postal com um bar, igrejas e um punhado de bonitas casas. Na praça principal encontrará o Posto de Turismo, onde pode comprar um passeio pedestre com explicação sobre a vida de Pérignon e o efeito que teve no aperfeiçoamento do champanhe. Uma das atracções da aldeia é a visita à Abadia onde está enterrado.
Champanhe na copa das árvores

Situado nas Colinas arborizadas que rodeiam Verzy, a noroeste de Hautvillers, um conceito totalmente novo na forma de desfrutar champanhe. Uma caminhada de dez minutos através da floresta cria uma sensação de antecipação pela chegada a Le Perching Bar – o primeiro bar de champanhe nas árvores. Criação dos designers Germain Morisseau e Oliver Couteau, o bar localiza-se numa plataforma de madeira suportada por estacas de seis metros e acessível através de vários passadiços suspensos nas árvores.
Uma música agradável emana das colunas; vários champanhes locais são oferecidos e as vistas são excepcionais. “Tudo funciona a energia solar e temos planos futuros para criar alguns alvéolos nas árvores, com designs geométricos e abertos à frente, denominados ‘alvéolos empoleirados’, para que casais apaixonados possam pernoitar”, conta-nos Oliver. Se estiver na região, esta é uma atracção que não pode perder. Conduza em direcção a Verzy ou Verzenay e peça direcções a um local. O bar está aberto de quarta a domingo durante os meses de Verão.
A partir de Verzy, é apenas uma flûte ou duas de espumante até Reims que, juntamente com Épernay, é o centro mais importante da produção de champanhe. Reims é a casa de alguns prestigiados produtores como Mumm, Tattinger, Pommery e Louis Roederer. Fundada em 1776, Louis Roederer é uma das últimas grandes casas de champanhe independentes e geridas familiarmente. Em 1876, a pedido do Czar Alexandre II, Louis Roederer Cristal foi criado em garrafas feitas de vidro de cristal transparente com um fundo liso, tornando-as facilmente identificáveis. Por mais de um século, a aparência da patenteada garrafa de Cristal permaneceu única, inalterável… e muito copiada. Caracterizado pela sua grande delicadeza e elegância (uma grande proporção de Chardonnay), o seu aroma delicado e equilíbrio perfeito, Cristal é altamente apreciado pelos conhecedores.
O extraordinário castelo escolhido para explorar Reims é o Château Les Crayères. Discretamente aninhado no coração da cidade de champanhe, esta elegante casa, outrora propriedade da família Polignac, é actualmente um retiro gourmet de luxo premiado com duas estrelas Michelin, onde os hóspedes podem relaxar nos 20 sumptuosos quartos e a gastronomia de luxo assume papel principal. Château Les Crayères apresenta um dos mais magnificentes locais para desfrutar de champanhe, o Bar Terrasse.

Se também é apreciador de golfe, pode experimentar, não muito longe, o Golf De Reims. Este pitoresco campo de 18 buracos fundado em 1928 é uma mistura atractiva de fairways delimitados por árvores e greens extensos nas belas redondezas do Château des Dames, um castelo do século XV rodeado por um fosso. Em cada tee, as várias Casas de Champanhe, como Moet & Chandon, Louis Roederer, Laurent Perrier e Mumm anunciam o seu produto, abrindo o apetite para uma flûte após o jogo no clubhouse do castelo.
Nós, contudo, dirigimo-nos para Nordeste de Reims para passar a última noite em Château de Montaubois, um magnífico edifício do século XVIII localizado em 4 hectares de parque em Signy l’Abbaye. Os proprietários, Jean-François Monteil e a esposa Elizabeth, passaram três décadas a renovar o castelo para a sua antiga glória, com características originais e mobílias da época. Agora oferecem acomodação B&B com cinco sumptuosos quartos disponíveis para os hóspedes.
Depois de nos terem sido mostrados os quartos vimos uma apresentação fascinante sobre a história do castelo e o processo de renovação. À noite, partilhámos uma deliciosa refeição caseira com os nossos anfitriões e em seguida Jean-Francois, um prolifico inventor, mostrou-nos o seu novo jogo de cartas interactivo, denominado Champagne Discovery. Bebericando a minha flûte de champanhe (arrefecida a um ideal de 6 a 8 graus celsius), pondero acerca de uma das perguntas: “Quantos litros de champanhe existem na garrafa Salmanasar?” É o final perfeito para a nossa visita à região francesa de Champagne-Ardenne.
GUIA DE VIAGEM
Onde ficar
Le Château d’Etoges: www.etoges.com
Château de Montaubois: www.chateaudemontaubois.com
Château Les Crayères: www.lescrayeres.com
Onde beber e comprar champanhe
Champagne Drappier: Um produtor familiar de excelentes champanhes na região de Côte des Bar. www.champagne-drappier.com
C. Comme Champagne: Loja e bar especialista em champanhe em Epernay com mais de 350 champagnes disponíveis. www.c-comme.fr
Perching Bar: O primeiro bar de champanhe nas árvores nos arredores de Verzy. www.perchingbar.eu
Onde comer
Reims / Restaurante Le Millenaire (1 estrela Michelin): www.lemillenaire.com
Épernay / La Cave a Champagne: www.la-cave-a-champagne.com