Bebida de luxo, de reis e de príncipes, ela encerra, entre as bolinhas que sobem nas flutes, paladares mágicos que tornam cada momento único. O seu preço varia consoante a colheita e a fama, mas há garrafas que atingem valores astronómicos.

Com um grande ‘C’ de charme se escreve a palavra champanhe, bebida de reis e imperadores, imagem última do luxo e de momentos especiais, públicos ou íntimos, mas sempre solenes. A história da sua descoberta parece apontar a um homem, o monge beneditino Dom Pérignon (1668-1715), mas há quem defenda que o champanhe se descobriu a si mesmo.

Recuando muitos séculos no calendário da história, tudo pode ter começado com os romanos, já que se atribui a eles a plantação da vinha em França e por maioria de razão na região de Champagne, no nordeste deste país. Trouxeram a matéria-prima, a uva, mas até à dança febril das bolinhas que sobem nas ‘flutes’ haveria de faltar ainda muito.

Dom Pérignon, monge na abadia de Hautvillers e responsável pelas suas adegas, verificou que alguns tipos de vinhos fermentavam novamente depois de engarrafados, levando ao rebentamento de muitas garrafas. Os produtores vítimas de enormes perdas não sabiam o que fazer, mas Dom Pérignon foi fazendo experiências. Garrafas mais fortes e rolhas atadas com cordão de cânhamo foi a solução encontrada e, sem saber, ele acabava de descobrir o método de fermentação em garrafa ou método champanhês.

 Só que havia um problema. Os resíduos resultantes da segunda fermentação ficavam na garrafa. Foi então que surgiram as segundas grandes figuras na história do champanhe: a viúva Clicquot Ponsardin e o seu mestre adegueiro Anton von Muller. Foram eles quem desenvolveu as bancadas de madeira onde as garrafas são colocadas com o gargalo para baixo e são rodadas a intervalos regulares para empurrar a sujidade até à boca do gargalo (processo de remuage). Depois, segue-se o ‘dégorgement’, processo que retira todas as impurezas. O champanhe tinha finalmente nascido até se chegar aos mais de 300 milhões de garrafas que hoje se vendem anualmente.
José Manuel Moroso integrou os quadros do EXPRESSO como jornalista e aí trabalhou em várias áreas durante mais de 20 anos. Foi durante muitos anos responsável pela famosa secção Gente (Expresso), substituindo Pedro d’ Anunciação, passou pela política, foi editor de desporto, editor dos Guias do Expresso e do Livro da Boa Cama e da Boa Mesa e editor da Sociedade. Especializou-se, também, em críticas de vinhos e a escrever sobre relógios. Transitou, depois, para o jornal Sol, acompanhando a anterior direcção do EXPRESSO, onde se manteve nove anos, até ao final de 2015.