Colorida, vibrante e multicultural, a Cidade do Cabo deslumbra os visitantes pela união perfeita entre a sua atmosfera cosmopolita cool e a natureza em estado puro que a rodeia. Afinal, quantas cidades podem gabar-se de estar ano após ano no ranking das mais desejadas do mundo?

A Cidade do Cabo está prestes a tornar-se palco de uma das instituições de arte mais influentes do mundo. Quando inaugurar, em Setembro de 2017, o Zeitz Museum of Contemporary Art será o maior museu a abrir no continente africano nos últimos 100 anos, albergando a colecção do ex-CEO da Puma, o filantropo Jochen Zeitz, ávido coleccionador de obras de arte contemporânea de artistas africanos e toda a sua diáspora.

Ocupando um antigo silo de cereais junto ao porto Victoria & Alfred Waterfront, o Zeitz MOCAA terá 9500 metros quadrados e custará cerca de 33 milhões de euros. Com 57 metros de altura, o Grain Silo é um ícone do skyline e da história da cidade, por isso o responsável pelo projecto, o mediático arquitecto britânico Thomas Heatherwick, decidiu conservar os 42 tubos de betão que faziam parte do edifício original e integrá-los no museu. No interior, concebeu um átrio de forma “orgânica” inspirado num pedaço de milho gigante, a peça central de uma das obras de arquitectura mais arrojadas do momento. E para concluir, no topo, será inaugurado um hotel – The Silo – com 28 quartos e uma extraordinária penthouse com 211 metros quadrados e vista directa para a Table Mountain.

Abraçar o mundo

Há grandes expectativas em torno deste projecto, que vai acolher obras de todo este imenso continente. Será ele o responsável por trazer um novo olhar sobre a cidade. Mas quase não precisaria disso, tão grande é a diversidade que oferece. Publicações como a Condé Nast Traveller e Travel & Leisure voltaram a colocá-la, este ano, entre as 10 melhores cidades do mundo para visitar. Um sucesso que se justifica talvez porque a Cidade do Cabo aprendeu há muito tempo – foi a primeira cidade fundada por europeus num país que hoje ostenta 11 línguas oficiais – que ser multirracional, multicultural e multifacetada é uma grande vantagem.

Capital legislativa da África do Sul, a Cidade do Cabo é sede do Parlamento Nacional, a segunda maior área urbana do país, depois de Joanesburgo, e sem sombra de dúvida a mais cosmopolita das cidades africanas. Deve-o em parte ao facto de ter sido a primeira a ser fundada por europeus – a Companhia Holandesa das Índias Orientais utilizava-a como local para abastecimento de navios, estabelecendo-se definitivamente ali em 1652 –, e a verdade é que a sua vocação de entreposto comercial lhe garantiu uma porta aberta ao mundo até aos dias de hoje.

Quem visita a Cidade do Cabo nunca mais a esquece. A “Cidade Mãe”, como é carinhosamente conhecida, é um destino vibrante e colorido, com um enquadramento natural extraordinário, que a coloca entre as mais belas do mundo.

Comecemos pelo seu ex-líbris. A Table Mountain é uma montanha de cume plano – um planalto com cerca de três quilómetros – que domina toda a paisagem. Para onde quer que se olhe, a mais dramática das montanhas, muitas vezes envolta numa névoa branca, está lá, a observar-nos. A solução mais comum – e cómoda – para chegar lá acima é apanhando o teleférico, mas há quem prefira subir até ao topo… a pé! É uma caminhada árdua, mas sedutora para todos os amantes da natureza. É que a Table Mountain faz parte de um parque nacional com o mesmo nome, reconhecido mundialmente pela sua biodiversidade, por possuir uma fauna e flora únicos, estendendo-se desde Signal Hill, no norte, até ao Cape Point, no sul da península.

Cá em baixo, no centro, Long Street, é outro clássico da cidade. Famosa pelas suas fotogénicas fachadas vitorianas, esta rua animada está cheia de cafés, restaurantes, livrarias, pousadas para mochileiros, lojas de artesanato, e bares abertos pela noite dentro. Não muito longe, a Government Avenue convida a um passeio onde é comum cruzarmo-nos com esquilos. Passeando ao largo dos tranquilos Company Gardens, encontrará as Casas do Parlamento sul-africano do seu lado direito. Construído em 1885, este local foi testemunha de alguns dos debates mais acesos da política mundial, da Guerra Anglo-Boer à Segunda Guerra Mundial e o fim do Apartheid. Para quem colecciona marcos históricos, o Castelo da Boa Esperança está mesmo ali ao lado. Para que conste, é o edifício mais antigo da cidade, construído originalmente em 1666. Tudo isto a dois passos dos restaurantes e bares da moda da Kloof street.

Muda-se de bairro, muda-se de ambiente. Bo-Kaap, ou o bairro malaio, é outro dos cartões-postais do Cabo, com as suas casas art déco de cores garridas, minaretes, e população maioritariamente muçulmana. Dois passos ao lado e surge, quase em formato pop-up, o Waterkant, um bairro gayfriendly, repleto de galerias de arte. Mais para os lados do porto, Woodstock é “o” bairro mais fashionable do momento. E embora sempre tenha sido habitado por uma população multicultural (mesmo quando o apartheid proibia a coabitação de raças diferentes), hoje os edifícios degradados em torno do Old Biscuit Mill (uma espécie de Lx Factory local) tornaram-se o local de eleição de todos os criativos da cidade.

Entre lojas de cerâmica, sabonetes artesanais e simpáticos cafés, é neste local que todos os sábados se realiza um concorrido mercado de produtos biológicos, o Neighbour Goods Markets, um dos must-go do momento. Depois, há que (tentar) experimentar dois dos restaurantes mais badalados da Cidade do Cabo, situados no silo de cereais do Old Biscuit Mill.  Luke Dale-Roberts, um dos chefes mais aclamados do país, oferece no The Test Kitchen uma cozinha-espectáculo ao estilo de Heston Blumenthal (as reservas abrem no dia 1 de cada mês e esgotam num ápice); enquanto no The Pot Luck Club, no último andar do edifício, além de vista panorâmica servem-se brunches, almoços e jantares de uma ementa pan-africana e asiática, com pratos para partilhar.

Visitar o District Six Museum para conhecer melhor a história do apartheid (e que só terminou em 1990) ou apanhar o ferry até à ilha-penitenciária de Robben, onde esteve preso Nelson Mandela são visitas da praxe para entender melhor a história de toda a África do Sul. Por sua vez, e se não tiver preparação física para aventurar-se num dos trilhos através da cordilheira dos 12 Apóstolos, não deixe de visitar o Kirstenbosch National Botanical Garden, onde recentemente inaugurou um passadiço de 130 metros por cima da copa das árvores. No coração da cidade, é uma boa forma para perceber como o lado intensamente cosmopolita convive na perfeição com a Natureza.

 

Boa vida

Há quem veja o Cabo como um excelente destino de compras – graças aos seus muitos mercados, lojas de criadores de moda, jóias, design e decoração –, mas a gastronomia é mesmo um dos seus pontos mais fortes. A relação de proximidade com o mar e o número de quintas existentes em redor da Cidade do Cabo garantem produtos sempre frescos e de qualidade. E se há restaurantes para todos os gostos, também há nomes que estão na lista dos melhores do mundo! Dale-Roberts acaba de abrir mais um posto avançando do seu bem-sucedido império gastronómico no centro – The Shortmarket Club –, mas há mais. Franck Dangereux, chef três estrelas Michelin em Paris, é o responsável pelo La Colombe, um dos endereços mais celebrados da cidade, e também pelo The Foodbarn, um espaço mais descontraído instalado num celeiro na vila de Noordhoek. O senhor que se segue chama-se Reuben Riffel, e é provavelmente o mais mediático dos chefes sul-africanos, júri do programa de televisão Masterchef. O seu Reuben’s Cape Town está inserido no resort de luxo One&Only, a par de um Nobu do ainda mais célebre chef Nobuyuki Matsuhisa.

O Victoria & Alfred Waterfront, zona portuária que tem como símbolo uma torre de relógio é, desde a sua reconstrução nos anos 1990, uma das mais seguras da cidade e também uma das mais movimentadas, repleta de lojas de marca internacionais, de cafés e hotéis (como o One&Only). Por falar, em alojamentos, este é outro tema onde a Cidade do Cabo se apresenta em grande estilo. Do histórico Belmond Mount Nelson Hotel (inaugurado em 1889), com o seu estilo colonial impecável e serviço cinco estrelas ao conforto seguro do Cape Grace no V&A Waterfront, passando pelo Kensington Place, um boutique hotel no sopé da Table Mountain com apenas oito suites, a escolha é variada e quase infindável. Por exemplo, a Ellermen House, em Bantry Bay, uma das zonas mais caras de África, conhecida como a Cape Riviera é uma opção muito exclusiva, com quartos com vista directa sobre o mar, alguns dos quais com direito a piscina privativa. Para quem é fã de locais remotos e beleza natural, então o Tintswalo Atlantic pode ser uma boa opção. É o único hotel de luxo dentro do Table Mountain National Park, mesmo na base do Chapman’s Peak, e mesmo em cima da praia. Outra alternativa muito em voga é o aluguer de casas particulares. Mas não pense em casas particulares ditas “normais”. São casas de sonho, desenhadas por alguns dos principais arquitetos da África do Sul – espreite o site de empresas como a Luxury Retreats e decida por si.

Por fim, é preciso pegar no carro e fazer-se à estrada. A Chapman’s Peak Drive é um percurso único, uma estrada espetacular, que circula a montanha junto ao mar até a vila piscatória de Hout Bay, seguindo até rural Noordhoek. Pelo caminho, há que fazer um desvio pela Cape Point Route para ir até ao Cabo da Boa Esperança, um passeio obrigatório para todos os portugueses. Prossiga pela linha costeira de False Bay para ver a colónia de pinguins de Boulders Beach, e termine o dia em Kalk Bay, recheada de bons restaurantes. Last but not the least, dedique dois ou três dias desta grande viagem à região vinícola do Cabo conhecida por Cape Winelands. Stellenbosch, a uma hora da Cidade do Cabo, foi a primeira região sul-africana a criar uma “rota dos vinhos”, incluindo perto de 150 quintas produtoras de Pinotage (a casta resultante do cruzamento da Pinot Noir com a Cinsault). Além das provas de vinhos, entre Stellenbosch e Franschhoek esperam-no uma concentração extraordinária de restaurantes estrelados e hotéis de sonho, do estilo boho chic do Babylonstoren’s Farm Hotel à Delaire Graff Estate, uma magnífica propriedade do joalheiro britânico Laurence Graff com uma colecção de arte a condizer. Não vai arrepender-se.

Jornalista Viciada em hotéis, Catarina Palma está sempre a par das últimas novidades da hotelaria mundial. Começou a trabalhar no jornal PÚBLICO, mas foi a escrever sobre viagens que descobriu a sua verdadeira paixão. “Quem quer escrever sobre políticos, quando pode escrever sobre o melhor do mundo?” Directora da Rotas & Destinos durante mais de 10 anos, revista de viagens que deixou saudades, coordena actualmente o projecto Lisbon Shopping Destination e escreve sobre temas de luxo e lifestyle para diversas publicações, como a TURBILHÃO.