Praticamente ilimitado, o espectro de cores disponível actualmente na alta relojoaria, seja em mostradores, caixas ou braceletes, é uma tendência que promete perdurar. Descubra o que está na base desta explosão de cores relojoeira.
Uma verdadeira explosão de cores. Podemos, desta forma, definir a mais recente tendência no universo da relojoaria. Uma tendência que vinha a ganhar forma nos últimos anos, mas que, em 2022, atingiu, de certa forma, o seu apogeu. De facto, grande parte das marcas relojoeiras apresentou, entre as novidades deste ano, um grande foco em cores fortes e pouco usuais neste sector.
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Para melhor compreender o que está na base (e que possibilitou) desta explosão colorida temos que recuar vários anos e perceber que a evolução dos materiais, as necessidades específicas de certas profissões ou hobbies e as próprias tendências de moda são factores indesligáveis da agora forte utilização de cores.
O mostrador dos relógios foi o primeiro componente a “permitir” dar azo à imaginação em termos de cor. Aqui, podemos considerar o branco como uma espécie de cor padrão, não só pela tradição como, originalmente, pela disponibilidade de materiais. Regressando aos primórdios da relojoaria e olhando para os primeiros modelos com mostrador como o reconheceríamos hoje, estes eram principalmente esmalte branco com numerais pintados de preto. Já os primeiros relógios de bolso, eram visualmente muito semelhantes. E, embora os mostradores trabalhados e esmaltados se tenham tornado populares no século XIX, a panóplia de cores geralmente não se estendia muito. Alguns foram decorados com motivos florais ou cenas figurativas e pastorais, mas o branco mantinha-se como cor principal ou de fundo do mostrador.
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A década de 1970 foi a primeira época verdadeiramente colorida para algumas marcas relojoeiras, com muitas oferecendo determinados modelos numa variedade de cores de mostrador. Algumas tinham uma razão prática para cores mais ousadas, como o laranja frequentemente usado para aumentar a legibilidade em relógios de mergulho. Nos últimos anos, algumas cores de mostrador têm-se assumido como a tendência, com virtualmente todas as marcas relojoeiras a possuir pelo menos uma referência nesses tons. É o caso do azul e do verde. Já este ano, embora os mostradores azuis e verdes continuem a ser uma tendência, a verdade é que o céu é, na realidade, o limite, com diferentes tonalidades, mais pastel ou garridas, a assumir o palco da indicação das horas.
As potencialidades da cerâmica
Durante séculos, os relojoeiros usaram exclusivamente metais preciosos como ouro, prata e platina para construir a caixa do relógio. Essa utilização devia-se ao facto de estes metais preciosos serem os que estavam disponíveis e era também um reflexo dos laços originais entre as indústrias de relojoaria e joalharia. Mas, no século XX, à medida que a relojoaria se tornou uma forma de arte autónoma e que outras indústrias como a médica, aeroespacial e automóvel se começaram a desenvolver, novos materiais tornaram-se mais comuns e os relojoeiros rapidamente quiseram experimentá-los. Um material em particular ganhou destaque na década de 1930: o aço inoxidável, que logo se transformou no material de eleição na produção de caixas, pela sua leveza e resistência à corrosão.
Ao longo da segunda metade do século XX e início do século XXI, os materiais de caixa continuaram a evoluir mais rapidamente do que nunca. Na década de 1970, os relojoeiros começaram a usar titânio e, em anos mais recentes, o bronze e, claro, a cerâmica, um material incrivelmente leve e resistente a riscos, capaz de ser produzido numa ampla gama de opções de cores.
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Embora a utilização generalizada da cerâmica para caixas e braceletes seja relativamente recente, a verdade é que este material suscita o interesse das marcas relojoeiras desde a década de 1960. De facto, a história da cerâmica na relojoaria começa com o Rado DiaStar de 1962. Anos mais tarde foi a vez da Omega que, entre 1973 e 1982, desenvolveu uma forma proprietária de cermet, um termo genérico para um material que combina cerâmica e metal, que utilizou na caixa do Seamaster Cermet.
E se a cerâmica era um interesse relativamente passageiro para algumas marcas, houve um fabricante que resolveu apostar forte neste material. Falamos da IWC que, em 1986, apresentou o Da Vinci Calendário Perpétuo Kurt Klaus numa inovadora caixa em óxido de zircónio preto ou branco, o antecessor das caixas usadas na maioria dos relógios de cerâmica modernos. Produzido até 1995, este icónico modelo reforçou a determinação da IWC em explorar ainda mais as caixas de cerâmica, apresentando a cerâmica a um público de luxo.
Mas foi em pleno século XXI que a cerâmica se afirmou em toda a sua plenitude na relojoaria. Logo a abrir o milénio, a Chanel surpreendeu ao apresentar o J12 com caixa de cerâmica totalmente preta, a que se seguiu a versão branca e várias outras declinações até aos dias de hoje. Em 2005, a Rolex apresentava a primeira luneta em cerâmica disponível no mercado com o GMT-Master II e, 8 anos mais tarde, aventurava-se na cerâmica colorida ao lançar o GMT-Master II ‘Batman’ com uma luneta em cerâmica azul e preta.
Também em 2013, a Omega voltou a apostar na cerâmica com o Speedmaster “Dark Side of the Moon”, que se destacava por incluir coroa, botões e fecho de bracelete em cerâmica, uma novidade e um enorme feito devido à dificuldade em trabalhar a cerâmica em tamanhos tão pequenos. A IWC continuou o caminho que tinha iniciado em 1986, apresentando inúmeros modelos com caixas em cerâmica, sendo os mais recentes os Pilot TOP GUN Edição Woodland e Edição Lake Tahoe.
Hoje, virtualmente todas as marcas de alta relojoaria possuem referências em cerâmica (algumas com caixa e bracelete neste material, como é o caso da Hublot ou da Bulgari) e a evolução da utilização deste material tem vindo a trazer uma série de declinações cromáticas neste material.
Outros materiais coloridos
Além da cerâmica, utilizada em diversas tonalidades em caixas, aros e braceletes, existem outros materiais que contribuem para a explosão de cores na relojoaria. Um deles, amplamente utilizado nos últimos anos por várias marcas, com destaque para a Hublot, é a safira.
A evolução na utilização deste material no sector nunca parou desde que começou nos anos 70, inicialmente para o vidro que protege o mostrador. Não tardou até que a safira passasse para a construção da caixa e, em 1980, surgia o primeiro relógio com caixa integralmente neste material, o Corum Golden Bridge. Actualmente, muitas são as marcas que experimentam caixas em vidro de safira, não só transparentes, mas também em diversas cores.
No que às braceletes diz respeito, as correias em pele têm dominado o mercado desde que foram adoptadas, por volta de 1899, durante a guerra Boer. Numa época em que os relógios de bolso eram a tendência masculina, os soldados sentiram a necessidade de prender os seus relógios ao pulso. Hoje, este tipo de bracelete mantém-se entre as mais populares devido ao conforto e variedade, estando disponíveis em vários tipos de pele, cores e tons de pesponto contrastantes.
E não poderíamos falar de braceletes sem referir as de borracha. Hoje disponíveis numa variedade de formatos e cores, este tipo de correias começou a ser utilizado nos anos de 1950. IWC, Blancpain e Rolex são algumas das marcas que mais cedo se estrearam na utilização de pulseiras em borracha. Contudo, foi apenas durante a década de 1970 que as correias neste material se tornaram mais correntes, em grande parte devido à sua utilidade em relógios de mergulho e desportivos. Disponíveis numa grande variedade de cores, estas braceletes vieram aumentar a paleta de tonalidades possíveis.
Finalmente e não menos importante, não podemos esquecer o papel das pedras preciosas nesta explosão de cor. Safiras rosas, verdes, azuis, laranja, amarelas, rubis, esmeraldas, tsavoritas, etc. Muitas são as gemas que adornam caixas, asas, aros, fechos e até braceletes e que contribuem para conferir um toque de cor e muito glamour a peças relojoeiras.