Está a nascer uma nova geração de fatos, mais confortáveis e muito mais práticos, cortesia das principais casas de moda italianas, como a Zegna e a Canali.
Costuma dizer-se que “contra factos não há argumentos”, e embora os factos desta frase nada tenham que ver com os fatos que usamos, a verdade é que há igualmente poucos argumentos contra o conjunto mais elegante da moda masculina. E, no entanto, há quem o faça. Sobretudo hoje, com a moda a tornar-se mais casual do que alguma vez foi, o fato é muitas vezes dispensado como sendo “demasiado formal”, “pouco confortável” e “menos prático” ainda, pois até precisa de ir à lavandaria sempre que é preciso lavar. O streetwear domina, mesmo nos antigos feudos, como o escritório.
Nada disto é válido, naturalmente, nem para todos os cargos, nem para todas as empresas, e acreditamos que acontecimentos importantes, desde celebrações a reuniões, vão continuar a exigir uma indumentária mais cuidada. Mas entretanto o fato responde, adaptando-se aos novos tempos como sempre fez ao longo da sua história (ver caixa), recorrendo a novos cortes, e sobretudo a novos materiais, mais confortáveis e práticos. Porque no passado a elegância implicava sempre uma certa dose de compromisso, geralmente sacrificando o conforto, mas hoje estes tecidos inovadores, 100% naturais, 100% ecológicos, garantem o mesmo conforto do streetwear, mas mantendo o estilo impecável de um fato. Na vanguarda desta tendência estão os maiores nomes da moda italiana, como a Canali, que pode encontrar na Rosa&Teixeira, que criou a The Impeccabile 2.0. Trata-se de uma linha de fatos, camisas e casacos em lã, anti-rugas, anti-manchas, resistentes à água e respiráveis. São a escolha certa para andar todo um longo de um dia de trabalho, ou sair directamente de um avião para uma sala de reuniões, com um look pristino de um fato que não sabe o que é um vinco.
E provavelmente a peça mais inovadora, ou pelo menos a mais prática, chega-nos pela mão da Ermenegildo Zegna, que criou um tecido, o Techmerino, que soma todas estas características à possibilidade de ir à máquina de lavar roupa – e nem precisa sequer de ser passado a ferro: basta deixar o fato pendurado a secar que fica pronto para ser usado (leia-se sem qualquer vinco).
Para demonstrar as capacidades desta nova tela, a Zegna levou o seu fato para um lugar muito pouco habitual: um court de ténis, debaixo de chuva. Nessas condições filmou Alexander Zverev, nº 3 no ranking mundial ATP, a jogar com uma liberdade de movimentos sem precedentes para um fato. Tudo isto, repetimos, num tecido 100 % natural, 100& ecológico
Wash&Go
Uma nova colecção de fatos comercializada sob a linha Z Zegna, em lã Techmerino, que permite lavar as peças à máquina (sempre a baixa temperatura, até 30ºC), e só necessita de ser pendurada para secar (nunca levar à máquina de secar). Wash&Go, lá está. A colecção inclui ainda peças como trench coats, ténis ou camisas.
Canali
Impeccabile 2.0.
A Canali desenvolveu este tecido em casacos, calças, camisas e fatos, com a característica de não manchar, ser resistente água, ter óptima elasticidade e ser respirável. Sofisticado e prático.
Uma (muito) breve história dos fatos
Saville Row pode ser mais conhecida, mas Jermyn Street é casa de vários nomes ilustres na moda masculina, incluindo os camiseiros Turnbull & Asser (1885) ou Hawes & Curtis (1913). E foi em Jermyn Street que o município de Londres escolheu erguer uma estátua a Beau Brummell (1778-1840), o mais famoso dandy da história, e o principal responsável pela rejeição de uma indumentária, popular até então, com perucas, casacos de folhos e meias brancas pelo joelho. Trocou-os por um mais simples casaco e calças compridas, por vezes contrastantes, muitas no mesmo tom e tecido – criando basicamente o fato tal como o conhecemos hoje. E nisto foi seguido pela maioria da corte inglesa.
Muita da moda masculina nasceu no campo de batalha – basta pensar na Cravat ou no Trench Coat – pelo que não deixa de ser interessante verificar que o maior dos uniformes de hoje tem tão pouco que ver com o lado guerreiro. Tal como é interessante verificar que foram as classes mais baixas, e não o contrário, que acabaram por impor a moda do casaco mais curto, em lugar dos longos casacos populares entre as classes mais altas, e que hoje ainda reservamos para ocasiões especiais, no fraque.
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Foram anos, décadas de afirmação. Por vezes os fatos eram leves e coloridos, como nos anos 1920. Por vezes pesados e de três peças, como na década seguinte. De qualquer cor, desde que fossem pretos, na década de 1950, até qualquer cor desde que não fosse preto, nas duas décadas seguintes. Sendo que os anos 1960 e 1970 variavam no corte: slim primeiro, exageradamente grande depois. Na década de 1980, o fato impôs-se como símbolo de dinheiro e poder (Gordon Gekko em Wall Street), embora a década seguinte, com fatos largos e desleixados, tudo fizesse para contrariar esta ideia. Com a viragem do século, os fatos começaram a ganhar o lookslim dominante, por vezes demasiado justo para o nosso bem, embora essa justeza hoje seja compensada com cortes menos formais e mais cómodos, adaptando-se ao espírito mais casual da época.