
Com ascendência italiana, mas nascido no coração da indústria relojoeira, em La Chaux-de-Fonds, na Suíça, Giulio Papi é um amante confesso da mecânica. Uma paixão que, desde cedo, o levou a encontrar-se com a relojoaria e que, hoje, transforma o fundador da AP Renaud & Papi num dos maiores génios relojoeiros de todos os tempos.
Hoje em dia, muitas marcas produzem os seus próprios movimentos e calibres. Qual a sua opinião sobre esta recente tendência? Considera que poderá trazer benefícios para a indústria?
Pode ser uma coisa boa para a indústria relojoeira, porque se houver apenas um fabricante capaz de construir movimentos isso não é muito positivo, nem para os fornecedores, nem para a pesquisa e desenvolvimento, porque há apenas um fornecedor. Se todos os carros tivessem o mesmo motor e a mesma plataforma, isso tornar-se-ia monótono para o mercado. Acho que é bom que cada marca desenvolva o seu próprio movimento, na condição de que deve trabalhar bem. Temos de proteger a ideia do fabrico suíço. Se os concorrentes não fizerem um relógio realmente bom e se não trabalharem bem, depois pode haver a ideia da perda de qualidade do fabrico suíço.

E quanto aos novos materiais?
Nós utilizamos novos materiais não num modo estético, mas estático.
Mas agora as marcas estão a utilizar novos materiais nos movimentos…
Utilizamos novos materiais apenas nas pontes da platina principal e nunca na roda, pinhão e alavanca.
Qual é a sua opinião sobre os movimentos de alta frequência? Aumentam a precisão do relógio? Quais são as vantagens e as desvantagens desta solução?
O objectivo final é sempre melhorar a precisão. A alta frequência é uma das soluções para melhorar a cronometria e a precisão. Mas só isso não é suficiente. Para fazer movimentar a espiral do balanço há um escape. Durante o breve momento em que a âncora transmite energia das rodas para a espiral perde-se a cronometria, perde-se a precisão. Isso significa que, depois de realizada essa transmissão, é importante que a espiral se movimente de volta, fazendo uma longa curva para encontrar de novo a âncora.
Portanto, é a importância do escape?
Sim, é importante aumentar a frequência, mas manter o ângulo da espiral do balanço. Por exemplo, se a frequência é muito elevada mas a espiral está a todo o momento em contacto com a âncora, é pior. A frequência é alta, mas o relógio não é nada preciso.

Há uma razão para isso?
Sim, se um relojoeiro tiver de mudar algo no relógio, não ė nestes componentes. No futuro, daqui a 100 cem anos, um relojoeiro será capaz de ganhar valor nos componentes, mas agora ainda não. Se usar novos materiais, como o silício, é absolutamente impossível reparar este componente. Para um componente em silício, precisamos de uma máquina especial, precisamos da indústria de microprocessamento. Sem esta máquina não se pode cortar o silício.
Então o problema é porque a assistência técnica seria completamente impossível?
Sim. E, no momento, a filosofia Audemars Piguet é que os novos materiais são bem-vindos, mas não para os componentes dinâmicos do relógio.
Quais as principais novidades da Audemars Piguet para este ano?
Estamos a trabalhar na manutenção da nossa independência em termos de indústria, porque um grande grupo reservou fornecedores com os quais trabalhávamos, e esses fornecedores começaram a trabalhar cada vez menos para nós… Isso significa que temos de encontrar fornecedores novos ou aprender como eles trabalham para integrá-los na nossa indústria, já que trabalhamos muito com tecnologia. É claro que estamos a trabalhar em novidades, mas iremos lançá-las dentro de dois anos. Daqui a dois ou três anos haverá muito para explicar. (risos)