As divisões do tempo (data, dia, mês, fases da Lua, ano, etc.) que nos são dadas pelos calendários são uma informação útil, que desde muito cedo se aplicou aos relógios, tornando-se, aliás, na complicação mais frequentemente utilizada em relojoaria.

No séc. XVI, são construídos, em catedrais, os primeiros relógios astronómicos. Estes relógios, bastante complicados, dão indicações múltiplas sobre os movimentos dos astros e o calendário. A indicação do calendário começa a ser utilizada no séc. XVII nos relógios de bolso e, no séc. XX nos relógios de pulso.

As indicações das divisões do tempo poderão ser feitas de três maneiras: por ponteiros, por discos ou por um misto dos dois. Quanto ao funcionamento, todos os mecanismos, sejam eles de indicação única ou múltipla, vão “buscar” a energia necessária para fazer “saltar” os seus discos e ponteiros à roda de horas. É nesta roda, situada, na grande maioria dos casos, no centro do movimento do relógio, que é cravado o ponteiro das horas. Como quase todos os mostradores estão divididos em doze horas, o ponteiro e a roda das horas, efectuam 2 voltas por dia ao mostrador. Visto as indicações da data, dia e Lua efectuarem um salto por dia, o movimento da roda que os fará “saltar” deverá ser desmultiplicado, face ao da roda das horas.

Para isso, como é visível na imagem (1), a roda arrastadora (Z4) deverá ter o dobro dos dentes da roda de horas (Z1). Podemos, igualmente, ver que o disco de calendário necessita de um posicionador (7 – saltador) que mantém o disco imóvel e centrado na janela do mostrador. É o dedo de arraste (5), por não ser retráctil nalguns mecanismos, que facilmente é danificado, quando se pretende fazer a correcção dos indicadores da data, quando estamos perto do momento do salto, ou seja, da meia-noite. Por isso se diz com frequência para não se efectuarem correcções da data entre as 21h00 e as 03h00, mas apenas quando o ponteiro das horas se encontrar na parte inferior do mostrador.

Imagem 1
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Consoante o tipo de movimento efectuado pelos discos ou ponteiros no momento da passagem, os mecanismos são classificados da seguinte maneira: arrasto, semi-instantâneo e instantâneo. O sistema mais utilizado é o semi-instantâneo, pois acaba por ser aquele que é constituído por menos peças e menos complexas. O sistema instantâneo é o mais preciso e que permite que o salto seja efectuado num movimento único, numa fracção de segundos. Devido à sua precisão é também o mais oneroso. O mecanismo por arrasto é raramente aplicado.

Num relógio com calendário simples (data) ou duplo (dia e data), é possível fazer a correcção rápida do dia do mês e do dia da semana, através da coroa. Mas, para três, quatro ou mesmo cinco indicações do calendário, existe a possibilidade de corrigir cada um deles através de pequenos botões (correctores) que estão colocados na parte lateral da caixa. Actualmente, é possível encontrar relógios com os correctores “escondidos” debaixo das asas.

Alguns dos mecanismos de calendário, devido ao número de peças que os constituem e às funções que desempenham, fazem parte dos sistemas mecânicos mais complexos no mundo da relojoaria. Falo, como é óbvio do calendário perpétuo. Na relojoaria de uso pessoal, especialmente nos relógios de pulso, este mecanismo continua a ser algo que fascina todos aqueles que amam esta arte e se questionam como tantas peças e tão pequenas são capazes de nos indicar a data, o dia, o mês e o ano, tendo em conta a duração de cada mês, mesmo a do mês de Fevereiro num ano bissexto.

Termino este artigo com uma pequena curiosidade sobre as fases da Lua. Na grande maioria dos casos, o sistema escolhido para apresentar as fases da Lua, está baseado num disco dentado (59 dentes) com duas Luas representadas. Uma volta completa do disco representa dois meses lunares. Acontece que, desta maneira, está-se a dar uma duração de 29,5 dias ao mês lunar, quando na realidade este é um pouco mais longo (29,53 dias). Ou seja, cada mês o sistema “esquece-se” de cerca de 44 minutos, ao final de um ano de cerca de 9 horas e de 1 dia ao fim de três anos.