
Já nos aconteceu a todos entrarmos num espaço e sentirmos de imediato uma ligação com esse local. Não é apenas o nosso olhar que fica fascinado, são sobretudo as emoções que o ambiente nos desperta, as histórias que nos conta, as memórias que nos evoca. E tudo isto acontece com um propósito: cada vez mais os espaços públicos, como hotéis, restaurantes ou lojas, querem proporcionar a melhor experiência aos seus clientes, criando locais com uma identidade única, onde as pessoas querem estar, onde a sua vivência tenha significado e possa ser partilhada com outros. E para que isso aconteça, o design de interiores pensado e executado por profissionais assume uma importância primordial na criação de espaços que possam ser apelidados de “lugares”.

É o que diz Gracinha Viterbo, do atelier Viterbo Interior Design quando afirma que “cada vez mais o cliente valoriza o detalhe” e “é preciso prestar atenção à iluminação, textura, cor e escala, enquanto fatores que contribuem para criar uma sensação de lugar”, já que “a experiência do lugar é exigida e compreensível numa era em que a saúde mental e o bem-estar são crescentemente valorizados”. A designer conta que durante muitos anos, sobretudo no pós-guerra, o design de interiores foi “baseado na ideia de que a forma segue a função” e, “como resultado, o design não era mais sobre emoções ou estética, mas sim sobre funcionalidade.

Hoje estamos a voltar ao poder das emoções, das experiências e de como viver um espaço com todos os sentidos.” Gracinha Viterbo acrescenta ainda que o “design de interiores moderno está principalmente preocupado com a sua relação com o mundo físico” e além do seu papel estético e funcional, ele é um “elemento importante na forma como vivemos, trabalhamos e interagimos com o mundo”.

Cláudia e Catarina Soares Pereira © Francisco de Almeida Dias
Por sua vez, Cláudia e Catarina Soares Pereira, fundadoras do atelier Casa do Passadiço, falam-nos da relação de equilíbrio que imprimem em todos os seus projectos, nos quais “o conforto, a elegância, a qualidade e funcionalidade se encontram sempre aliados”, assumindo-se como “elementos fundamentais” na selecção das “materialidades que são o ponto de partida para a criação de uma identidade no espaço”. Na concepção dos seus projectos, as decoradoras têm sempre presente que a “decoração de interiores deve adaptar-se às mudanças no modo de vida”.

Cláudia e Catarina Soares Pereira © Francisco de Almeida Dias
É também esta a ideia que nos transmite a dupla de arquitectos da Oitoemponto, Artur Miranda e Jacques Bec, ao salientarem que “cada uma das suas criações é fruto de longas horas de consulta durante as quais se analisam estilos de vida, hábitos e gostos, de forma a respeitá-los o melhor possível e ir ao encontro das necessidades e desejos dos clientes”.
ESPAÇOS COM ASSINATURA
Nesta necessidade de quem procura lançar ou expandir um negócio com sucesso há hoje uma busca por lugares únicos e autênticos em que cada conceito é uma narrativa que traça uma identidade. “Cada vez mais, os clientes que nos procuram querem uma assinatura profissional, como quem investe numa obra de arte, porque entendem o valor artístico que um projecto personalizado acrescenta à experiência física e emocional”, explica Gracinha Viterbo, para quem o design de interiores moderno pode ser “definido como uma síntese entre arte, arquitectura, design, estilo de vida e cultura.”

Joana Astolfi © Studio Astolfi
Esta ideia é partilhada por Joana Astolfi, que, quando questionada sobre como se define – arquitecta, designer ou artista –, diz que se afirma como “artista com um dom para contar histórias através de objectos e sítios.” Com uma linguagem muito própria, as suas “narrativas” são claramente identificadas nas montras da Hermès, nos restaurantes José Avillez, na Claus Porto, na André Opticas ou no Museu de Moda e dos Têxteis, recentemente inaugurado em Gaia.

Joana Astolfi © Francisco Nogueira
EVOCAR A HISTÓRIA E CULTURA
Na criação de uma identidade singular para os espaços há também uma preocupação com a “pertença” ao local em que se inserem ou a referência histórica, respeito e valorização do património histórico e cultural. Foi o que aconteceu na renovação do Ritz Four Seasons Hotel Lisboa pela Oitoemponto, onde a dupla fez questão de “devolver a história ao espaço, mais do que impor a sua assinatura.” “Agimos com enorme respeito e carinho”, e “o resultado é o equilíbrio perfeito entre a evocação do passado e o estilo de vida contemporâneo”, sublinham os arquitetos.

Artur Miranda e Jacques Bec
© Francis Amiand
“Na maioria dos projectos, inventamos uma história, aqui prolongámos uma história.” As referências históricas e culturais, a par com a personalização, estão igualmente a flexibilizar a identidade padronizada das marcas, seja nas cadeias hoteleiras, de lojas ou restauração. É desta tendência que nos fala a Casa do Passadiço ao abordar os projectos realizados para a reputada marca de sapatos italiana Aquazzura em vários pontos do globo, incluindo Florença, Londres, Milão, Paris, São Paulo, Dubai, Qatar e Nova Iorque. “Em cada um dos projectos procurámos inspiração no local e na cultura onde o espaço está inserido, adequando os materiais, acabamentos e tonalidades e dando sempre especial atenção aos detalhes”, contam as fundadoras do atelier. “Todas as lojas da marca são diferentes, mas todas têm uma linguagem comum com identificação própria”, salientam.

Artur Miranda e Jacques Bec
© Francis Amiand
LUGARES DE PARTILHA
Hoje, mais do que coisas, “coleccionamos” experiências. E estes espaços são o local ideal para as partilhar, criando memórias que se querem inesquecíveis. Na era digital, a escolha de um hotel, a entrada numa loja ou a preferência por um determinado restaurante é motivada pelas redes sociais, onde os influencers têm um papel determinante.
Na opinião de Gracinha Viterbo, “o uso do design, combinado com a ascensão da tecnologia, mudou a forma como vivemos. A vivência está cada vez mais virada para dentro, para o que nos faz sentir um espaço, e isso abriu caminho a inovações impressionantes na forma como desenvolvemos um projecto e no seu resultado final.” Por isso mesmo, na concepção dos espaços há características que são projectadas a pensar no registo e partilha de momentos através de imagens e no potencial que estas podem ter na decisão dos clientes. E quanto mais “instagramável” for um local, com cenários perfeitos e propícios à partilha de fotos inspiradoras, maior será a probabilidade do seu sucesso.
Se o design de interiores pode conduzir a uma experiência singular e determinar o sucesso de um negócio, haverá regras para o conseguir? Gracinha Viterbo acha que não, mas, mesmo assim, deixa uma fórmula: o cliente (de onde vem, onde está e para onde aspira ir); o lugar (o estilo da arquitectura, as suas referências); a história que vamos criar e que une o cliente ao espaço.