Nascida há quase três séculos, pela mão de um jovem que se revelou um dos maiores talentos da história da relojoaria, a Jaquet Droz é hoje uma das mais reconhecidas e artísticas marcas do universo das peças do tempo.
Foi em 1738, com apenas 17 anos, que Pierre Jaquet-Droz entrou no universo da relojoaria de alma e coração, dando inicio à história de uma das mais fascinantes marcas relojoeiras da actualidade. Com um talento natural para a arte de contar o tempo, Pierre rapidamente se destacou, combinando movimentos relojoeiros com música e autómatos, peças que lhe granjearam grande reputação em toda a Suíça.
Pierre Jaquet-Droz
De terras helvéticas para o mundo foi um pequeno passo. Em 1755, Jaquet-Droz foi convidado a apresentar as suas criações junto da corte espanhola e o sucesso foi imediato. Todas as peças apresentadas, incluindo autómatos, foram compradas pelo Rei Fernando VI de Espanha.
A partir de 1773, já depois de Pierre ter dado sociedade da “Jaquet Droz e Leschot” ao filho, Henry-Louis, e ao seu protegido, Jean-Frédéric Leschot, a empresa produzia autómatos cada vez mais extraordinários, com especial destaque para a criação de três figuras humanóides em tamanho real apelidadas de “Escritor”, “Desenhista” e “Música”. Estes autómatos robotizados, hoje conhecidos como “Os Andróides”, atraíram espectadores de todo o mundo, que assistiam maravilhados às suas performances: a “Música” parece respirar enquanto toca uma das várias melodias pré-programadas no cravo; o “Escritor” molha a pena em tinta para completar uma mensagem pré-programada e o “Desenhista” cria desenhos com um lápis.
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A pequena empresa expandia-se rapidamente devido, entre outros factores, aos muitos sucessos nas várias cortes europeias e, por razões de saúde, Henry-Louis mudou-se, em 1784, para Genebra, onde abriu uma relojoaria sob a égide “Jaquet Droz e Leschot”, lançando a produção de peças muito complicadas.
Entretanto Pierre continuava o incansável trabalho nas peças automatizadas e, em 1785, tinha miniaturizado um pássaro controlado mecanicamente e desenvolveu um movimento compacto para controlar os seus movimentos. Foi também bem sucedido em recriar o chilreio do animal ao utilizar um único fole de timbre variável com um pistão deslizante, em vez de vários foles de timbre único. Foi esta invenção que levou à criação das caixas de rapé com pássaros que fizeram furor na China, um dos mercados principais da empresa à época.
A Jaquet Droz, agora na posse de três oficinas de produção, localizadas em La Chaux-de-Fonds, Genebra e Londres, alcançou o auge em 1788. Um nome de peso no mercado do luxo suíço, produzia relógios complicados e autómatos, como pássaros cantores e caixas de rapé musicais. Mas o fulgurante sucesso da empresa sofreu um revés que a manteve adormecida por mais de um século. Em 1790, Pierre Jaquet-Droz morre, seguido pelo filho, Henry-Louis, apenas um ano depois. As mortes dos sócios e a má situação económica que se viveu depois das guerras napoleónicas impediram que Leschot continuasse o caminho de sucesso trilhado até então. Este não criou novos modelos, apenas produzindo variações daqueles que tinham sido criados nos dias de glória da empresa e, em 1810, cessou o negócio.
O renascimento
A história moderna da Jaquet Droz começou em 1989, quando a Invescorp, uma empresa anglo-saudita, então dona da Breguet, Chaumet e Ebel, comprou os direitos da marca. Em 1994, alguns dos lideres da Invescorp tornaram-se independentes, levando consigo a Jaquet Droz e a Breguet e vendendo-as ao Grupo Swatch em Abril de 2000.
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New Workshop
O plano de acção inicial do Grupo Swatch foi restaurar a marca fundada por Pierre Jaquet-Droz de acordo com a sua herança, mas de uma forma moderna. Os primeiros passos foram suportar financeiramente o Museu de Arte e História de Neuchâtel, onde os autómatos e a maior colecção de peças vintage da marca estavam albergadas. Por outro lado, a “nova” Jaquet Droz regressou ao mesmo edifício, em La Chaux-de-Fonds, onde tudo tinha começado em 1738, embora as instalações actuais sejam agora numa nova sede, à saída da cidade.
A nova equipa, gerida por Manuel Emch, renovou a colecção da marca e lançou as primeiras peças, dignas de Pierre Jaquet-Droz, na Feira de Basileia de 2002. No ano seguinte, foram apresentados novos modelos, fiéis ao espirito do fundador, muitos deles reinterpretações de relógios de bolso desenvolvidos pelo mestre e seus sócios.
Mantendo-se fiel à sua herança, a Jaquet Droz do novo milénio estabeleceu uma imagem de marca assente no seu ADN, adaptada às necessidades da era moderna. Uma das características hoje indissociáveis da manufactura é a utilização do número “8” no design de mostradores e de caixas da colecção. Sendo a China um dos principais mercados de Pierre Jaquet-Droz, a marca decidiu utilizar este numeral como tema recorrente, uma vez que é considerado o número da sorte no Extremo Oriente.
Grand Second
Um dos exemplos mais emblemáticos da utilização desta figura é o modelo Grande Seconde, lançado em 2002. Esta linha teve origem num relógio de bolso de 1784 criado pelo fundador da marca, onde as linhas dos contadores das horas e minutos e as do submostrador dos segundos formam um “8” no mostrador. Actualmente, esta linha alberga inúmeras versões diferentes, todas destacadas pela sua simplicidade e minimalismo. A presença deste número da sorte é ainda destacada no número de peças disponíveis nas edições limitadas (numerus clausus), oferecidas em conjuntos de 8, 28 ou 88 peças.
Outra das características recuperadas dos primórdios da marca tem a ver com o renascimento da folha de trevo, assinatura utilizada por Pierre Jaquet-Droz nas suas peças e que agora surge em todos os movimentos da marca. Por outro lado, também a borboleta é frequentemente utilizada para embelezar os relógios da manufactura. Este motivo baseia-se num descoberto num antigo livro sobre Jaquet Droz.
Petit Heure
Desde o relançamento no inicio do milénio, a Maison tem vindo a construir uma identidade muito própria que combina detalhes do passado com atributos caros à história da própria relojoaria e outros totalmente distintivos. É o caso da utilização de minerais raros na produção de mostradores (gemas semipreciosas, meteorito, fósseis, pedras preciosas, etc.) e do domínio de técnicas de decoração ancestrais, como a esmaltagem, uma das assinaturas Jaquet Droz. Por outro lado, a perícia nos autómatos persiste nos relógios actuais da marca, embora numa escala miniaturizada. Exemplo fulcral desta arte que granjeou grande sucesso ao fundador da manufactura são os relógios com pássaros autómatos, lançados nos últimos anos.
Actualmente, a Jaquet Droz possui uma imagem de marca forte e facilmente reconhecível. Emulando os relógios de bolso do passado, os actuais modelos de pulso são dotados de grande espaço aberto no mostrador, que é amplificado pela ausência de uma luneta. O design, esse, é sempre minimalista, mesmo quando predominantemente artístico.