
Foi a primeira mulher e a mais jovem artista a expor no Palácio de Versailles. Depois do sucesso em Paris, é em Lisboa, no Palácio Nacional da Ajuda, que a sua obra, tão singular, pode ser admirada. Descontextualizar os objectos do seu ambiente natural, reenquadrando-os numa outra realidade, é a assinatura da versatilidade do trabalho de Joana Vasconcelos. A artista plástica portuguesa que conquistou o mundo.
O nome Joana Vasconcelos voou alto e abraçou o mundo numa irrefutável associação entre criatividade, talento e ousadia. Que caminhos conduziram à descoberta da sua identidade enquanto artista plástica?
O meu percurso foi algo atípico: estudei design, desenho e joalharia (curiosamente, nunca escultura), o que acabou por se repercutir mais tarde, em termos práticos, no meu trabalho. Em termos conceptuais, o que informa o meu trabalho sempre partiu da minha perspectiva pessoal e subjectiva acerca do mundo.
O que a inspira e faz despoletar cada nova criação? O conceito de transformação metafórica é um traço comum a todas as suas obras?
O que me inspira são os aspectos mais banais do quotidiano: os símbolos, os objectos de que nos rodeamos, os comportamentos da sociedade contemporânea. O que é transversal no meu trabalho é o reapresentar e subverter tudo isto, de forma a gerar novos discursos e novos olhares sobre a realidade.
Como se desenrola todo o processo criativo em torno do nascimento de uma peça sua, e de que forma emerge de uma fusão com a personalidade da artista?
As minhas obras possuem um tom particular, resultante da minha própria subjectividade; afinal, sou mulher e sou portuguesa, e isso condiciona a forma como me relaciono com o mundo. O meu processo criativo parte sempre da observação crítica da realidade que me rodeia; daí nascem as ideias, que depois concretizo no meu atelier, com a colaboração da minha equipa.
Depois do sucesso da exposição no Palácio de Versalhes, em Paris, algumas das obras lá expostas regressaram a Portugal, concretamente a Lisboa, para ganhar vida no Palácio Nacional da Ajuda. Que balanço faz da mostra na cidade das luzes e o que evidencia desta mais recente exposição na capital portuguesa, em que dois cenários igualmente grandiosos se fundem?
A exposição no Palácio de Versalhes serviu para levar a minha obra a um público muito vasto; dei centenas de entrevistas a meios de comunicação do mundo inteiro, e a exposição foi visitada por mais de 1.600.000 pessoas. Quanto à exposição no Palácio da Ajuda, confesso que me traz um prazer especial ver o meu trabalho exposto num belíssimo Palácio, que é de todos nós, e a suscitar tanto interesse junto do público – em dois meses, a exposição recebeu cerca de 70 mil visitantes.