A Galeria São Roque too recebe até 31 de Dezembro a exposição ‘A Exaltação da Sombra’, da artista Lourdes Castro, um dos maiores nomes da arte portuguesa actual.

Um total de 22 obras da artista, propriedade dos coleccionadores Maria Helena e Mário Roque, predominantemente datadas dos anos 60, as “sombras projectadas” são uma reunião de trabalhos em que a artista joga com a representação de amigos através de silhuetas.

"Pochete des Ombres", 1967
“Pochete des Ombres”, 1967

Figura incontornável da arte portuguesa do séc. XX, Lourdes Castro iniciou o seu trabalho com sombras, primeiro impressas em serigrafia, posteriormente pintadas em tela, recortadas em plexiglas e bordadas em lençóis. A partir de 1973 projecta-as num ecrã – um teatro de sombras em movimento, em que o seu próprio corpo intervém e onde o discurso são as imagens de um quotidiano familiar.

A silhueta e a representação da sombra são o tema central na obra da artista, que implicitamente, e não por acaso, tem relação com o vazio do Zen budismo tão exaltado em Paris nos anos sessenta. Através do desenho de perfis de figuras humanas, plantas e objectos, a artista leva o espectador à situação de invocação perante as imagens. Em simultâneo fixa o rastro, a ausência, mas também a presença e a imaterialidade da sombra, o que em si mesmo constitui um caminho poético de grande originalidade.


Sobre a artista

Lourdes Castro nasceu no Funchal em 1930, terminando os seus estudos nas Belas Artes em 1956. Em 1958 instala-se em Paris e publica com René Bertholo, Escada, João Vieira, Costa Pinheiro, Christo e Jan Voss a Revista “KWY: Da abstracção lírica à nova figuração” – as três letras que não existem no alfabeto português. Mais do que uma revista trata-se de um objecto artístico, impresso à mão, onde se misturam serigrafias originais com fragmentos de objectos, fotografias, imagens, ao mesmo tempo que se promovem exposições. Em 1962 inicia o seu trabalho com sombras.
Lourdes Castro cedo lançou os dados para um jogo que ao longo da sua extensa carreira tem vindo a explorar. E esse jogo é de fascínio e de profunda reflexão sobre a imagem. A artista faz parte de uma geração privilegiada, que de algum modo se libertou da rigidez ideológica dos programas vanguardistas para poder livremente explorar as potencialidades das linguagens plásticas, inovando através dos materiais. E saindo sem dramatismo das regras da academia, abrindo caminho para a participação do espectador.
Com um palmarés de inúmeras exposições individuais em todo o mundo e várias distinções, Lourdes Castro retira-se de uma vida artística intensa, regressando à Madeira em 1983, depois de 25 anos em Paris.

A Turbilhão é uma revista semestral, especializada na área da Alta Relojoaria e do Luxo.