
Quem tem um turbilhão sob três pontes de ouro, tem quase tudo. Mas não pode viver apenas do seu passado, por mais admirável que seja. A Girard-Perregaux, uma das poucas manufacturas verdadeiras a trabalhar a Alta Relojoaria, quer pensar mais no futuro, apoiada na força financeira de um dos maiores grupos de luxo do mundo. Sem pressas, mas com determinação.
A mil metros de altitude, La Chaux-de-Fonds, cantão de Neuchâtel, Suíça, é o coração da indústria relojoeira mundial de alta qualidade. Numa das cidades mais altas da Europa, foi aqui que nasceu o mais famoso arquitecto do século XX, Le Corbusier.

O seu património edificado faz parte do circuito Arte Nova. Séculos de edificação específica valeram-lhe o reconhecimento por parte da Unesco, como Património Mundial. Alinhados em ruas em esquadria, os edifícios não fazem sombra uns para os outros e aproveitam a luz do sol, do nascer ao ocaso, para que os relojoeiros, em frente de amplas janelas, dela possam usufruir.
É neste ambiente de história, património e arte que desde há mais de 220 anos está instalada a Girard-Perregaux.

Os seus 200 colaboradores produzem, anualmente, cerca de 20 mil relógios. E, caso cada vez mais raro na indústria, todos eles feitos desde a concepção ao produto final, sob o mesmo tecto.
Modernas máquinas controladas por computador criam as peças dos futuros relógios, convivendo lado a lado com ferramentas com mais de 100 anos, que continuam a ser usadas para determinadas tarefas, como os retoques finais. Um calibre Girard-Perregaux pode ser composto por mais de 400 peças, algumas delas com um décimo de milímetro de espessura. A tolerância é geralmente de um mícron, mas chega-se em alguns casos à décima do mícron.

Fabricadas as peças, entra em acção, a 100 por cento, a habilidade manual dos relojoeiros – as máquinas não sabem montar relógios. A operação de montagem decorre em salas mantidas permanentemente sob pressão artificial – quando as portas se abrem, o ar sai, voltando a entrar apenas através de filtros, evitando assim ao máximo o pó.
Montados os calibres, entram seguidamente nas caixas, sendo sujeitos a amplitudes térmicas, a choques, à pressão para garantir resistência à água. Este é o procedimento para os relógios de série na Girard-Perregaux.

Mas, numa das áreas mais restritas da manufactura, há um departamento onde reina o silêncio. A concentração dos artesãos é absoluta. Ali nascem anualmente apenas umas centenas de relógios.
Cada relojoeiro é responsável, do princípio ao fim, por cada um deles. Estamos no reino das Grandes Complicações – sonneries, repetições minutos, turbilhões, calendários perpétuos com fases de lua, duplos cronógrafos com flyback… tudo termos que apenas os iniciados compreendem.
Peças que podem levar 1500 horas a ser trabalhadas, calibres de ângulos polidos, decorados, esqueletizados num minucioso labor manual.