Nascido e criado em Chicago, uma das cidades do mundo com maior tradição em design industrial, o futuro de Octavio Garcia não poderia passar por outra área que não a da criatividade artística. Os estudos acabaram por o levar até à Suíça onde o primeiro contacto com a relojoaria teve lugar. Actualmente responsável pelo Departamento Artístico da Audemars Piguet, Octavio é o homem por detrás do re(design) não só de várias peças do tempo, mas do próprio conceito da marca.

Qual a importância do design no universo relojoeiro?

Penso que tem a ver com determinados ciclos. Houve ciclos, como nos anos setenta, em que personalidades como Geralda Genta tiveram a oportunidade de estabelecer uma ligação directa com os decisores e criar produtos deveras interessantes que acabaram por gerar outros mercados paralelos que na época não tinham tanta importância. É o caso do marketing. Penso que actualmente estamos novamente numa época em que é importante ter uma mente criativa directamente ligada aos decisores porque, afinal, esta é uma indústria baseada na emoção. E o trabalho do designer acaba por ser o de criar uma ponte entre o pensamento industrial e as expectativas do cliente, o marketing, a cultura e a herança da própria marca.

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De onde retira inspiração para o seu trabalho?

Parte dessa inspiração vem da nossa herança e história. Temos um museu fantástico, rico, com peças fantásticas que nos inspiram, sobretudo quando falamos em desenvolver calibres. Depois há outras indústrias das quais tiramos inspiração, desde a indústria automóvel, à moda, à arte. E é impressionante porque tenho a sorte de poder dar inputs às outras indústrias que agora florescem à volta dos relógios porque já não se trata apenas do relógio, mas da experiência. Por isso, o meio do retalho tornou-se cada vez mais importante e a arte tem muita importância quando estamos a desenvolver essas áreas também.

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Foi um dos responsáveis pelo redesenho do Royal Oak. Qual a maior dificuldade em redesenhar um ícone?

Foi uma oportunidade fantástica por diversas razões diferentes. Antes de mais porque o Royal Oak é um ícone. Portanto quando se pensa em reinterpretar um ícone tem que se ser muito respeitador e humilde. Penso que fizemos o que tínhamos a fazer para o actualizar ao adicionar mudanças que sentíamos ser coerentes com o ADN do design original. A esse respeito foi muito mais desafiante do que se possa imaginar porque estamos a falar, por vezes, de centésimos de milímetros. Foi um desenvolvimento muito apaixonante.

Nessa mesma época, a marca lançou o “Processo de Revitalização”. Do que se trata?

Chegou numa altura em que nos começámos a questionar sobre alguns assuntos fundamentais, nomeadamente relacionados com a forma como estávamos a promover a marca. O Royal Oak e o Royal Oak Offshore eram realmente peças muito importantes dentro da nossa colecção e história, mas apercebemo-nos que, na mente dos nossos clientes, estes estavam mais presentes do que a própria empresa. Com o “Processo de Revitalização”, a nossa ideia foi avaliar esta diferença de importância entre o produto e a marca e ver como o poderíamos inverter porque, afinal, a Audemars Piguet tem uma história fantástica que vai muito para além destes modelos. Assim, sabíamos que tínhamos que ir de um modo de comunicação de produto para um modo de comunicação da marca. Isso significou desenterrar a história da marca, seleccionar o que achávamos ser relevante e diferenciador e usá-lo para alavancar este novo posicionamento.

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