Oito produtoras directamente ligadas ao sector do vinho, uniram-se para levar, além-fronteiras, o selo de qualidade que Portugal já exibe. Os vinhos portugueses, defendem, estão ao nível dos melhores do mundo, mas são tratados muito abaixo do seu valor. Este grupo, chamado D’Uva, quer inverter toda esta situação.
“Queremos afirmar-nos como um país de grande qualidade”. O desejo, a meta, como lhe queiramos chamar, é assumido a uma voz por um grupo de oito mulheres líderes de projectos vínicos, que continuam a lutar, palmo a palmo, num sector tradicionalmente masculino; ao mesmo tempo que querem dar a conhecer ao mundo os vinhos portugueses, a sua diversidade e qualidade.
Este grupo, chamado D’Uva, nasceu à volta de uma mesa em resposta ao desafio na altura colocado por um jornalista. Por que não um grupo organizado de mulheres portuguesas ligadas ao vinho? Nascia, assim, em 2016, o projecto abraçado por oito produtoras, cada uma ligada a diferentes áreas na esfera do vinho.
Há, de facto, uma nova geração de enólogas e engenheiras agrónomas dedicadas à viticultura e que já demonstraram ser capazes de deixar marca. Outras, ligadas ao marketing nesta área de negócios, ajudam também a compor a imagem das D’Uva, acrescendo ainda que a herança e a vivência familiar em torno dos vinhos da maioria destas mulheres, facilita a definição dos seus objectivos. De referir, também, que o facto de todas pertencerem a várias regiões vínicas, cada uma com as suas diferenças, contribui para a apresentação de uma variedade de portefólio e de perfis de vinhos, o que só por si está apto a desenhar um roteiro de vinhos de Portugal.
No espírito de todas, baila uma revolta contra a forma como o vinho nacional é tratado no estrangeiro. “Bebem o nosso vinho, que é de topo, a preços quase de borla. Queremos inverter esta tendência”, garantem. A apresentação de cada uma das D’Uva é o maior atestado das suas competências. Estas prometem agitar o universo do vinho, elevando as suas vozes de mulher em nome da qualidade do que é português. Ei-las.
As D’Uva
Catarina Vieira, agrónoma, viticultora e empresária, assumiu a liderança do projecto familiar Herdade do Rocim, no Alentejo, em 2002. Situada entre a Vidigueira e Cuba, no Baixo Alentejo, a herdade do Rocim tem 120 ha, dos quais 70 são de vinha quase toda plantada neste século e, em 2007, lançou os seus primeiros vinhos.
Catarina Vieira
Francisca van Zeller
Outra das presenças das D’Uva é Francisca van Zeller, descendente de uma família há 15 gerações envolvida no negócio dos vinhos do Porto e do Douro. Francisca é licenciada em História, pós-graduada em jornalismo e, desde 2013, dedica-se ao projecto familiar Quinta Vale D. Maria, cabendo-lhe directamente a área de vendas e promoção dos vinhos, mas tem também envolvimento em enologia, ramo onde fez uma pós-graduação. Francisca van Zeller assume, dentro das D’Uva, o papel de porta-voz.
Outra das integrantes é Luísa Amorim, directora-geral da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, um projecto familiar integrado no grupo da Corticeira Amorim. Com formação e percurso na hotelaria, marketing e gestão, Luísa Amorim interessa-se igualmente por enologia e participa no fecho de cada um dos lotes de vinhos Quinta Nova. Luísa é ainda fundadora da Associação Bagos D’Ouro, uma organização sem fins lucrativos que promove oportunidades educacionais para crianças e jovens carenciados daquela região.
Luísa Amorim
Mafalda Guedes
Maria Manuel
Quanto a Mafalda Guedes é a mais velha da quarta geração da Sogrape Vinhos, a maior produtora nacional e detentora de várias quintas. Licenciada em Gestão na Universidade de Oxford, fez pós-graduação em enologia na Universidade Católica do Porto e é hoje gestora de mercados da empresa. Actualmente, Mafalda Guedes está mais directamente ligada à Herdade do Peso, no Alentejo, propriedade que aposta em políticas de vanguarda e inovação tecnológica.
Outra a integrar o grupo das D’Uva é Maria Manuel Maia, herdeira executiva da centenária produtora de vinhos Poças Júnior, partilhando há uma década a gestão familiar da empresa. Engenheira agrícola formada pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, assume a gestão da viticultura das três quintas da família.
Rita Cardoso Pinto é licenciada em Gestão pela Universidade Católica, tendo feito depois mestrado em viticultura e enologia no Instituto Superior de Agronomia. Foi então que iniciou o seu percurso no mundo dos vinhos, tomando as rédeas da propriedade da família, a Quinta do Pinto, em Alenquer, que conta com 120 há.
Rita Nabeiro
Rita Pinto
Rita Fino
Noutra região, no Alentejo, mais especificamente em Portalegre, temos o Monte da Penha, onde Rita Fino é a responsável pelo marketing. Seguindo a tradição dos projectos vínicos da família, nomeadamente com a Tapada do Chaves, Rita Fino envolveu-se com o Monte da Penha, herdade de 139 ha, 23 dos quais têm vinha. Uma das características do Monte da Penha é a aposta em vinhos tintos envelhecidos em carvalho francês e comercializados já com alguns anos de garrafa.
Finalmente, a última integrante do grupo D’Uva é outra alentejana, Rita Nabeiro, da Adega Mayor. Licenciada em design de Comunicação, começou por se envolver a desenhar a marca para os vinhos da casa Delta Cafés. Entretanto, com a inauguração, em 2007, da Adega Mayor, Rita integrou o projecto Nabeiro, inicialmente como responsável pelo marketing geral do grupo, mas assumindo, hoje, a direcção geral da Adega, a propriedade de Campo Maior que conta com 350 ha.
São estas oito mulheres, todas elas líderes de projectos vínicos, que querem ter voz activa na defesa dos vinhos portugueses, empenhando-se também na sua divulgação além-fronteiras. Para elas, há já uma certeza: “as mulheres trazem uma nova sensibilidade e experimentalismo ao sector”. A sua palavra de ordem é só uma: “Queremos afirmar-nos como um país de grande qualidade. E vamos consegui-lo!”