Tal como uma fénix que renasce das cinzas, nos últimos anos os métiers d’art regressaram com pompa e circunstância ao universo relojoeiro. Campos artísticos do passado que ressuscitam em verdadeiras obras-primas do Tempo e cujo futuro na relojoaria contemporânea parece inquestionável.
A ligação dos métiers d’art à relojoaria é secular. Porém, tempos houve em que estes ofícios centenários quase se perderam para sempre. Ressuscitados há cerca de uma década por algumas manufacturas relojoeiras de excepção, actualmente, os métiers d’art reconquistaram o seu lugar no universo da medição do tempo, dando origem a relógios que deslumbram, surpreendem e oferecem o “corpo” a técnicas decorativas até há bem pouco tempo desconhecidas.
Mas o que são, afinal, os métiers d’art? Em relojoaria, este é o nome atribuído a técnicas seculares utilizadas para decorar as peças do tempo, e entre as quais se encontram a esmaltagem, gravação, pintura em miniatura, marchetaria, engaste ou guilhochagem. Durante vários anos, o mundo da alta relojoaria revelou a sua habilidade em combinar precisão extrema com as tradicionais profissões artesanais dos métiers d’art. De facto, os relojoeiros de séculos passados foram os primeiros mestres artesãos a aliar a arte e a perícia técnica. A esqueletização de um movimento, a gravação e embutimento em platinas e pontes, a granulação circular, a decoração tipo raio-de-sol ou guilhoché são técnicas encontradas na relojoaria de luxo desde os primórdios.
A era industrial do século XX trouxe um declínio no campo das artes decorativas e os métiers d’art quase morreram em resultado da crise do quartzo dos anos 70 e 80, quando a própria industria relojoeira mecânica esteve em sério perigo. Durante muito tempo, estes ofícios mantiveram-se afastados das máquinas do tempo até que, aos poucos, foram fazendo a sua reentrada neste universo. A Vacheron Constantin é apontada como uma das marcas que deu o mote para o renascimento dos métiers d’art, com o lançamento da linha de edição limitada Masks em 2007. Papel preponderante, sobretudo no domínio da esmaltagem artesanal, teve também a Ulysse Nardin, aquando do relançamento da marca pela mão do falecido Rolf Schnyder. Estas e outras marcas começaram por procurar artesãos destas artes centenárias, empregando-os para produzir pequenas séries de peças altamente cobiçadas e iniciando, assim, o renascimento dos métiers d’art.