
Aos comandos da Piaget há 15 anos, Philippe Léopold-Metzger mostra-se orgulhoso com a herança e dedicação da marca na produção meticulosa de movimentos, relógios e jóias e analisa a evolução da Piaget e do sector na última década.
Por Marina Oliveira, em Genebra, Suíça
Trabalha como CEO da Piaget há 15 anos. Quais as principais diferenças que hoje apontaria na Piaget e no mercado da relojoaria em geral?
Nos últimos 15 anos houve definitivamente um crescimento enorme no negócio dos relógios, porque cada vez mais países estão a interessar-se e a crescer neste sector, tais como o mercado asiático, do médio oriente, novos territórios da américa latina, mantendo-se a actividade dos mercados da Europa e América do Norte.
A idade dos clientes também mudou muito. Há 15 anos, o alvo para os relógios de luxo era entre os 45 e os 65 anos. Hoje, é entre os 30 e os 45 e as pessoas compram durante mais tempo porque têm uma vida mais longa. As marcas tornaram-se mais organizadas. Há uma enorme competição, que comporta uma grande criatividade e inovação. Por isso, o negócio tem-se tornado mais competitivo, mais sofisticado.
Hoje vemos uma série de coisas que a Piaget anteviu e que se concretizaram. Por exemplo, a Piaget foi provavelmente a primeira marca a apostar nas lojas monomarca, hoje temos uma rede de cerca de cem por todo o mundo. Por outro lado, nos últimos 15 anos começámos a fabricar o relógio na íntegra nós próprios, todos os movimentos são feitos pela Piaget, e hoje todos estão a tentar fazer este tipo de integração.
Também nos movimentámos na direcção certa, como foi o caso da China, apesar de as pessoas dizerem que o mercado chinês está a abrandar… Tivemos um grande crescimento na Ásia, que trabalhámos nos últimos 15 anos e ainda hoje a Ásia e a China são um mercado enorme. Mesmo que o crescimento não seja tão acelerado como era, continua a ser um mercado critico para o negócio dos relógios.
Outra coisa que mudou foi a quantidade e a velocidade de informação sobre os produtos. Obviamente que é algo transversal a todos os negócios, mas aumenta muito o scope do negócio.
E, dentro da Piaget, houve alguma mudança que sinta como sua?
Claro. O trabalho na distribuição e venda, o grande investimento na produção e o trabalho no mercado asiático, de onde vim como country manager. Mas também no novo equilíbrio que agora existe. Sempre fomos os grandes especialistas da joalharia no fabrico de relógios e agora afirmámo-nos também nos ultrafinos e a fazer relógios muitos bonitos para homem. É um equilíbrio muito importante no nosso negócio, que está a resultar. Para isso foi muito importante o excelente trabalho de equipa.
Aliás, para uma marca progredir precisa de uma equipa estável. Não se pode mudar uma marca de um dia para o outro. Aliás, pode-se, mas os resultados serão fortes durante um ou dois anos, mas depois destrói-se o negócio. Mas nós crescemos muito e mantivemos a nossa filosofia. Um dos princípios é que somos uma manufactura, e é tudo feito dentro de portas: desenhamos, desenvolvemos, criamos o protótipo, fabricamos e vendemos.
Portanto, controlamos todo o ciclo, desde o desenho à produção e à venda e esse foi um feito muito interessante. Mas ainda há muitos desafios pela frente e é isso que torna o trabalho interessante.
Durante muito tempo, a Piaget destacou-se como produtora de movimentos e de relógios-jóia. Mas, nos últimos anos, cresceu como marca de renome e manufactura na indústria dos relógios masculinos…
Sim e é interessante porque, num país conservador como é Portugal, vemos que nos saímos muito bem com o cliente local, nomeadamente como o Altiplano, que se tornou um sucesso, é um relógio muito bonito e muito elegante. Os portugueses estão em sintonia com o nosso produto, gostam de se vestir bem e de forma elegante, mais do que, por exemplo, os espanhóis.
O negócio dos relógios cresceu e estamos muito equilibrados. Vendemos tantos relógios de homem como de mulher e o nosso negócio está muito equilibrado entre os relógios-jóia e os relógios normais.
A Piaget deu o mote para os relógios ultrafinos e hoje é uma tendência. Como lidam com este facto?
É o que aspiramos. Para mim, quando decidimos construir a nossa manufactura, a área-chave foi o ultrafino, porque faz parte do ADN da marca. Fizemo-lo consistentemente ao longo dos últimos 15 anos e, na altura, não era popular.
O ultrafino é muito mais complicado, é mais fácil trabalhar com o grande movimento. Óbvio que quando começámos, a Piaget teve sucesso e hoje há uma concorrência muito intensa pelos recordes e isso é óptimo. Para mim significa que o que sempre quis, que o ultrafino fosse considerado como uma grande complicação em si, foi validado pela concorrência.
Há mais concorrência, mas isso também aconteceu com a esqueletização, em que a Piaget se concentrou bastante nos últimos cinco ou seis anos, e agora todos estão a tentar fazê-lo. Gostamos quando vemos as pessoas ficarem rivalizadas com o que fazemos.