
O turbilhão, como complicação de exceção, tem vindo a ser reinventado, de maneira a que a invenção de Abraham-Louis Breguet se adapte cada vez mais ao relógio de pulso, continue a proporcionar novos desafios técnicos e principalmente, meça o tempo com maior precisão. O duplo turbilhão, que abordamos neste número, é disso mesmo um exemplo.
Para melhor explicar este tipo de mecanismo, escolhi três relógios, cujas soluções técnicas utilizadas são diferentes. O Breguet 5347 (Classique Grande Complication) e o Roger Dubuis Excalibur (Double Tourbillon Volant Squelette) apresentam dois turbilhões completos que funcionam de maneira independente, onde a marcha final é a média das duas marchas dos turbilhões. Entre estes dois modelos existe uma importante diferença, enquanto no Roger Dubuis os turbilhões têm uma posição fixa na máquina, no Breguet (fotografia em baixo) estes estão colocados numa platina central que é móvel, rodando à razão de uma volta em doze horas.
Ou seja, ao mesmo tempo que as “gaiolas” rodam sobre si próprias (1 volta por minuto), estas efetuam um movimento de “translação” à volta do eixo central da máquina, melhorando a sua “performance” na medição do tempo. Mas, para que estes dois turbilhões recebam, de maneira igual, a força transmitida pela corda e restituam aos ponteiros, o resultado (média) de duas marchas diferentes, era preciso equipar estes relógios com um dispositivo, que permite com que tudo isto seja possível: um diferencial. Estou a falar de algo está presente em qualquer tipo de automóvel, mas que no relógio atinge dimensões “microscópicas” e que são bem mais complexas.
Só para lembrar, num automóvel, o diferencial permite que a potência que chega a cada um dos eixos de tração seja idêntica, mesmo que o trajeto que cada roda efetua seja diferente, quando se está em curva.
No caso da Greubel & Forsey, esta temática foi abordada de outra maneira. Enquanto, nos casos já apresentados o objetivo era melhorar a precisão, juntando mais um turbilhão, com o “Double Tourbillon 30º” procurou-se resolver a melhoria da precisão de outra maneira. Como é sabido, os turbilhões foram criados para “impedir” que a marcha do relógio, quando este está numa qualquer posição vertical, seja afetada pelos efeitos da gravidade, sobre os desequilíbrios do conjunto balanço-espiral. Ou seja, quando um relógio está na horizontal, o turbilhão não está a “desempenhar” a sua função, não efetuando qualquer compensação. Após 4 anos de pesquisa, a Greubel & Forsey apresentou a sua primeira invenção, que consistiu em colocar um turbilhão dentro de um outro.
Na realidade, neste sistema não existem dois balanços, mas sim um balanço e duas gaiolas ou seja, um turbilhão e uma segunda gaiola. O turbilhão (completo) encontra-se no interior e o seu eixo está inclinado de 30º em relação ao eixo da segunda gaiola. Estes dois elementos apresentas diferentes velocidades de rotação, sendo que o primeiro efetua uma rotação num minuto, o segundo, demora 4 minutos a efetuar uma rotação completa.
A conjunção destes dois elementos, inclinação de 30º e diferentes velocidades de rotação, pretende anular as variações de marcha devidas à atração terrestre, isto para todas as posições que um relógio de pulso pode tomar. Com este dispositivo, o balanço raramente estará na horizontal, estando o turbilhão sempre a compensar.
Como se pode constatar, para se melhorar a precisão de marcha de um turbilhão, não basta apenas, juntar mais um. O desfio técnico tornou-se bastante complexo, tendo sido necessário, num dos casos realizar um micro diferencial de alta precisão e no outro colocar um turbilhão dentro de outro.