
A 1 de Junho de 2013, o cacilheiro desactivado que ganhou nova personalidade pelo poder criativo de Joana Vasconcelos foi tornado público, saciando a curiosidade de todos os que ansiavam por conhecer o resultado final do Trafaria Praia, o projecto da artista para representar Portugal na 55ª exposição Internacional de Arte – la Biennale di Venezia.
Transformado num pavilhão flutuante, esta obra de arte, comissariada por Miguel Amado, analisa a relação entre Lisboa e Veneza, duas cidades que se interligam pelo importante papel que desempenharam no desenvolvimento da visão de mundo europeia durante a Idade Média e o Renascimento. O Trafaria Praia é um projecto que motiva ainda uma reflexão sobre a zona de contacto entre Lisboa e Veneza, tendo em conta três aspectos fundamentais partilhados por ambas as cidades: a água, a navegação e o navio.
Ela, a pianista, atira-se ao cravo com determinação. O som que se ouve é exactamente o das notas premidas pelos dedos ágeis, delicados, de mãos parcialmente cobertas por rendas. O peito da artista sobe e desce, numa respiração tensa, própria de um recital. No final, os aplausos e a vénia subtil.
Com este projecto, Joana Vasconcelos propõe uma relação metafórica entre o cacilheiro, o icónico ferryboat de Lisboa, e o pitoresco vaporetto de Veneza. O exterior do cacilheiro foi revestido com um painel de azulejos pintado à mão, em azul e branco, representativo de uma vista contemporânea de Lisboa, da Torre do Bugio à Torre Vasco da Gama. Esta peça é, por sua vez, inspirada num outro painel de azulejos, o Grande Panorama de Lisboa, ilustrativo de Lisboa antes do sismo de 1755.
No convés do cacilheiro, o ambiente é criado à base de têxteis e de luz, através de obras de formas orgânicas coloridas e maioritariamente suspensas do tecto, que interagem com outras estruturas arquitectónicas. A peça consiste num complexo patchwork em azul e branco que cobre o tecto e as paredes, remetendo para o fundo do mar, num cenário possivelmente evocativo do livro Vinte Mil Léguas Submarinas, de Jules Verne, ou alusivo à narrativa bíblica de Jonas e a Baleia.
O potencial do Trafaria Praia não se esgota por aqui. No tombadilho da embarcação, a cultura portuguesa ganha expressão através da organização de vários eventos, para que cada passeio seja o mote de uma viagem de descoberta pela identidade nacional.
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