Não, o protagonista desta história não é o Gene Kelly de “Um Americano em Paris”, o célebre musical estreado em 1952. Nesta história o actor principal chama-se Florentine Ariosto Jones, é o fundador da IWC, e se aparecesse num cartaz de cinema, o filme teria necessariamente de se chamar “Um Americano em Schaffhausen”.
Ao longo de século e meio de uma existência pontuada quase continuamente por momentos brilhantes de alta relojoaria, a International Watch Company, conhecida globalmente pelo seu acrónimo IWC, nunca se permitiu ser influenciada pela opinião de uma qualquer maioria. Não quando era uma empresa de um homem só, nem quando passou a ser uma sociedade dividida por acções ou quando finalmente passou a integrar uma multinacional dedicada à arte de bem fazer e à alta relojoaria em particular. Hoje, os relógios que a marca produz estão intimamente ligados à sua manufactura que, em consequência, passou a fazer parte da história recente de uma cidade cuja evolução tem sido devidamente documentada ao longo do último milénio.
Desde 1873, pouco menos de 6 anos após a fundação da marca pelo norte americano Florentine Ariosto Jones, que o edifício sede da empresa se tornou um marco da pequena cidade de Schaffhausen, na Suíça. Apesar de o edifico original manter ainda a entrada principal entre as duas alas, a restante construção, como hoje se apresenta, é um testemunho da história e evolução da Internacional Watch Co ao longo de 150 anos. Em 1895 é dado inicio à construção do anexo sul do edifico, localizado nas traseiras da fachada principal. Um espaço que, chegados a 1911, se torna demasiado exíguo obrigando ao acrescento de pisos adicionais. E com o passar dos anos e o crescimento da empresa, a construção expande-se ainda mais para este e para oeste.
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Ao longo da sua cronologia o edifico sede da IWC assistiu a êxitos, crises, falências, à redução do número de trabalhadores que nele laborava de 300 para 150 com a crise do quartzo, chegando a 2018 com cerca de 650 artesãos altamente qualificados que reproduzem a essência de uma marca singular para mais de 1000 pontos de venda em todo o mundo.
Mas 150 anos após Jones ter saído de Boston e fundado a IWC nas margens do Reno sobre uma visão industrial Americana associada à excelência da manufactura de relojoaria suíça, o contraste com o passado não poderia ser maior.
Enquanto que o propósito de construir os melhores relógios que o dinheiro pode comprar se manteve como uma das linhas de orientação principal que nortearam a esmagadora maioria dos administradores da IWC, o estilo que os sucessores de Ariosto Jones impuseram ao longo de cada um dos seus mandatos é distinto e pode ser claramente identificado pelos modelos que preencheram o catálogo da manufactura em diversos momentos da sua história.
CEO – Rauschenbach Vogel
CEO – Rauschenbach Schenk
CEO – Hans Homberger
CEO – Ernst Homberger
CEO – Kurt Klaus
Nomes como Johannes Rauschenbach-Schenck, Ernst Jakob Homberger (a quem se deve o lançamento dos primeiros modelos do Português e a criação da linha Pilot) e Hans Ernst Homberger (Ingenieur, Aquatimer e Beta 21, como pronuncio da era do quartzo) representam uma dinastia que geriu os destinos da IWC sob uma perspectiva de empresa familiar.
A crise do quartzo
Segue-se a conhecida crise de quartzo, e a IWC não resiste incólume ás inerentes transformações económicas e tecnológicas. A empresa é adquirida pelo construtor de instrumentos “VDO Adolf Schwindling” em 1978, juntamente com a Jaeger-LeCoultre, e convida Gunter Blumlein para um cargo de direcção. Engenheiro de formação com excepcionais capacidades na área do marketing, Blumlein tornar-se-ia numa peça chave na sobrevivência, recuperação e desenvolvimento da IWC, apontando a empresa para um rumo de sucesso do qual ainda hoje beneficia. A estreia do famoso movimento com calendário perpétuo do mestre relojoeiro Kurt Klaus aparece, aliás, em meados da década de 1980, em pleno mandato de Blumlein.
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Relógio de bolso
savonnette Pallweber, 1886
Guenter Bluemlein
Em 1991 a “VDO” é adquirida pelo gigante industrial “Mannesmann” no seguimento do interesse do grupo na produção de componentes para a industria automóvel e onde se incluía a “Kienzle Apparate”. Com a aquisição, a IWC passa novamente para as mãos de um novo proprietário sem verdadeira vocação relojoaria até que, finalmente, em Fevereiro de 2000, é adquirida pelo grupo Richemont ao qual ainda hoje pertence, integrando um grupo de peso do qual fazem parte alguns dos mais importantes nomes da alta relojoaria mundial.
Portugieser Turbilhão Força Constante Edição “150 Anos”
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Colecção comemorativa
A partir deste momento a IWC entra no período mais dinâmico e rico da sua história que culmina em 2018 com a comemoração do seu 150º aniversário. E para comemorar esta efeméride, a casa de Schaffhausen decide apresentar este ano, em pleno Salão de Alta Relojoaria de Genebra, a colecção Jubilee. Um conjunto de modelos sem precedentes na história da marca que totaliza 27 edições limitadas integradas nas linhas históricas Portugieser, Portofino, Pilot e Da Vinci. A estas associa-se ainda, e pela primeira vez desde 1884, um conjunto de modelos com indicação de horas e minutos digitais ao melhor estilo Pallweber.
Tribute to Pallweber
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Mas apesar de os novos modelos pertencerem todos a colecções distintas entre si e fazerem uso dos diversos calibres que compõem a produção actual da IWC, existe um elemento transversal que os une: um mostrador em branco ou azul vivo extremamente apelativo, cujo efeito apenas pode ser alcançado através de um processo que aplica diversas camadas de laca, e que é reminiscente das técnicas de acabamento aplicadas aos mostradores de esmalte.
Portofino
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Mas para este importante aniversário, a IWC não se limitou a apresentar modelos já existentes nas diversas colecções, dando-lhes apenas uma “aparência” comemorativa. Para além da grande novidade de uma edição de bolso e de pulso lançada a titulo de Tributo a Josef Pallweber, a IWC apresenta um número interessante de estreias.
É o caso da edição do Português com Turbilhão de Força Constante que inaugura a combinação desta complicação com uma indicação de fases da lua. E com o Português Turbilhão Calendário Perpétuo, a marca de Schaffhausen estreia-se também pela primeira vez com um calibre capaz de conjugar estas duas complicações. O Português é aliás a linha que mais novidades apresenta ao inclui também um cronógrafo cujo movimento se baseia na família de calibres 69000.
Da Vinci
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Ao adoptar o calibre 52850, a Big Pilot torna-se na única linha na colecção Jubilee a integrar um calendário anual. Uma posição de destaque na qual é seguido por um outro modelo desta linha desportiva que adopta o calibre 59235, estreando pela primeira vez nesta linha uma útil indicação de Grande Data ás 12 horas.
Da mesma forma, a linha Da Vinci integra-se nesta colecção comemorativa ao estrear o calibre de manufactura 82200. Um movimento de corda automática, sem complicações de maior, cujo destaque vai para a indicação de pequenos segundos às 6 horas.
Pilots Watches
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Poucos ignoram que em “Um Americano em Paris” o personagem de Gene Kelly decide tentar a sua sorte como pintor na cidade luz, mas acaba por cair numa teia amorosa. Schaffhausen não parece ter tratado tão bem Florentine Ariosto Jones. A intenção inicial de produzir movimentos para exportar para os Estados Unidos, onde depois seriam associados a vários tipos de caixas, falha devido a uma conjuntura desfavorável. Quando, finalmente, em 1876, os bancos credores decidem o fecho da fábrica, Jones perde tudo e é obrigado a regressar aos Estados Unidos. Nesta perspectiva, o hipotético filme “Um Americano em Schaffhausen” começa bem, mas não tarda a revelar o dramatismo do enredo. Felizmente o final é apoteótico, e a colecção que marca os 150 anos da IWC é a prova de que a iniciativa de Jones acabou por dar ao mundo uma das mais interessantes casas de alta relojoaria da actualidade.